Xavier Pinheiro: o eterno professor.

Nélio Silveira Dias Júnior  (Advogado)

O menino de Luiz Gomes, nascido naquele sertão brabo, em 8/4/1930, onde a seca maltrata e às vezes mata, como retrata Graciliano Ramos em “Vidas Secas” (cujo livro foi inspiração de sua caminhada e destino), muito cedo percebeu que a educação era o meio para ir além dos seus horizontes e a persistência era o caminho do sucesso.

Deixar a sua cidade, sem muitas oportunidades, em busca de novo rumo, desconhecido e incerto, não seria uma tarefa fácil, principalmente, naquela época. Mas, Xavier Pinheiro, mesmo assim, seguiu em frente, íntegro e inteiro em sua vocação de trabalhar e servir.

Sedento por conhecimento, Xavier Pinheiro bacharelou-se em Ciência Jurídicas e Sociais (UFAL); todavia, não se aquietou, logo depois, vieram os bacharelados em Geografia, Filosofia, Ciências e Letras (UFRN), e, em seguida, o curso de Jornalismo e Comunicação Social (UFRN).

No jornalismo, teve passagem marcante no Diário de Natal, tendo sido nesse jornal  secretário de redação (editor-chefe). Sagaz, coordenou grandes reportagens, que lhe rendeu prestígio e respeito na sociedade. Com seu conhecimento profundo da língua portuguesa, “última flor do lácio, inculta e bela…” (Olavo Bilac), pôde exercitá-la em seu esplendor. Ao lado de Edgar Barbosa,  um ícone dos editoriais e de quem tinha admiração, presenteou o natalense com grandes artigos.

Mas, a sua missão não era só essa. Julgar era o seu destino. Entrou na magistratura para fazer a diferença. E fez. Tinha para si os ensinamentos de Rui Barbosa: “A justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta”. E fazendo da sua profissão um sacerdócio, julgava todos os processos a ele feitos conclusos em curto espaço de tempo. Esse feito gostava de dizer e de tudo guardava registro. Para uns colegas era bravata ou exibicionismo, para Xavier Pinheiro era um dever de ofício. Exerceu a judicatura estadual, no Rio Grande do Norte, e federal, na Paraíba,  sempre com muita retidão e correção. Obstinado na arte de julgar e de distribuir justiça.

O seu prazer mesmo, entretanto, era ensinar, e assim o fez no ensino médio (Marista,) e no ensino superior (UFRN e UFPB). Só isso não bastava. Precisava individualizar o ensino, talvez para seu melhor aproveitamento. Então, formou diversos grupos de estudos. E a quem se propunha estudar direito, ensinou, sempre dizendo: “só há uma forma de aprender é estudando, e de estudar é lendo, repetidamente o mesmo assunto”.

Com essa lição fez diversos concursos públicos. Para Juiz de Direito no RN, incontáveis, mesmo já sendo juiz, colecionando vários “1º  lugar”. Concursos para outros cargos também prestou. O de Procurador do Estado (RN) foi um deles. Nesse, também, ficou em 1º lugar, com uma diferença, passou com 10 em todas as fases. Os outros foram para Juiz Federal, Auditor do TCU e Promotor de Justiça (PR), também aprovado. Afora o cargo de juiz, nenhum deles assumiu. Disso tudo se orgulhava e para a geração que lhe seguia mostrava o registro, não com superioridade, mas como ensinamento. A sua mente era brilhante, indubitavelmente; mas, a sua dedicação era surpreendente!

Resumida assim uma vida parece ter sido apenas uma sucessão de acontecimentos. Mas, na realidade, por trás disso há uma luta de alguém que se dedicou, com afinco, para alcançar seus objetivos e  defender seus ideais, seguindo seus princípios e convicções. Deles nunca se afastou!

Ao deixar a toga, em 1981, passou a advogar, pois, àquela altura da vida, não conseguiu se afastar do Direito. Apenas inverteu o papel. Em vez de declará-lo iria construí-lo. Com bastante conhecimento jurídico não teve dificuldade na advocacia. Não demorou e logo ganhou reconhecimento e notoriedade na sociedade potiguar. Mas, se destacou, ainda mais, na Paraíba. Ali, com escritório de advocacia, e ao lado de Dorgival Terceiro Neto, também advogado, fez história.

Nessa fase da vida, conheci Dr. Xavier. Pessoa de pouca conversa, mas de gestos largos. Com ele estudei e iniciei a advocacia. Ao seu lado, defendi causas, com destemor e firmeza de atitudes. Com sólida formação intelectual, fazia a diferença: o difícil era fácil. Da lembrança agora gratidão!

Xavier Pinheiro exerceu o ofício da vida, e prestou a esta mesma vida um serviço de cidadania, honradez e trabalho, que lhe rendeu aplausos e sempre renderá. A sua partida, em 21/12/2020,  sem adeus e sem explicações, deixa muita saudades… Segue o homem o destino de sua vida e morte (Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha).

Posso até dizer que Dr. Xavier Pinheiro partiu, mas garanto que não passou. Fica a lembrança e, principalmente, o exemplo e o inesquecível modelo humano que não se apaga jamais.

E se agora eu pudesse falar ao meu amigo, Dr. Xavier Pinheiro, eu lhe diria: ninguém esquece quem mudou a sua vida.

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