Trabalho horizontal e colaborativo

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 05/08/2023

De tempos e tempos, aos domingos, acordo cedo e saio a passear pela cidade, quase sempre, no mesmo lugar: Ribeira e Cidade Alta, revendo as ruas, praças e casarões ali instalados, lembrando de uma Natal inesquecível, que infelizmente não vivenciei, mas pela história, lida e contada, me traz muita alegria e satisfação.

Natal antiga era pura beleza.

Em um certo domingo, resolvi lavar meu carro em um lavo-jato da Cidade Alta. Aparentemente, nada de anormal, até porque se tratava de um simples serviço.

Porém, foi aí que me surpreendi. Não só pelo serviço de excelência, e sim, com a sua organização e como era prestado. Teoricamente, sem um chefe, chato e carrancudo, que cobra de seus subordinados de maneira excessiva e sem ter muito resultado.

Ao ser entregue o carro para o serviço, é levado ao dique e lá duas pessoas executam a lavagem, e, depois, outras quatro fazem a secagem e a limpeza interna. Só pegando outro veículo quando deixa aquele pronto. Com isso, tudo é feito com rapidez e eficiência.

Tudo isso é realizado em silêncio e com alegria. Todos unidos e satisfeitos. Cada um realiza as suas funções, de forma rotativa, de modo que não se torna repetitiva.

Impressionado, perguntei a um dos funcionários.

– Quem é o gerente aqui ?

Respondeu um deles.

– Não tem, nem precisa. Todos nós sabemos a nossa função e a realizamos sem necessidade de ser cobrado por uma única pessoa.

Curioso, com tanta perfeição, perguntei ainda.

– Quem é o dono da empresa ?

E assim me foi respondido.

– O dono, de segunda a sábado, é Fulano; mas, no dia de domingo, o dono somos todos nós. O Fulano nos entrega o lava-jato e divide conosco, igualitariamente, o lucro.

Aí percebi um modelo de organização societária, cuja engrenagem funciona sem pressão, em que todos ganham: empresário, funcionários e consumidores.

Um exemplo de organização que valoriza seus funcionários. Não possui chefes ou cargos formais de lideranças. Dá autonomia aos funcionários para tomar decisões e escolher em quais tarefas desejam trabalhar. E adota a repartição de lucros.

Acredito que essa estrutura horizontal promove a criatividade e o empoderamento dos trabalhadores. Adota-se um sistema de autoavaliação para determinar as funções e fixar a remuneração dos próprios funcionários, que têm voz na sua definição.

Talvez, ao partilhar os lucros de forma equitativa, incentiva-se a cooperação e um senso de pertencimento entre os colaboradores.

Na verdade, não estou aqui a defender nenhum modelo político-econômico, nem analisar relações trabalhistas, apenas relato uma situação organizacional societária, simples, sem nome ou teoria, que, na prática, está dando certo.

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