Severino Vital, uma figura lendária
Data: 05/03/2021
Uma pessoa simples, mas, não por isso, sem importância para a cultura popular potiguar. Um aboiador que encantou por onde passou tangendo a boiada.
Radicado em Ceará-Mirim, ganhava a vida transportando gado de um lugar para outro na região do Mato Grande (RN). Um tangerino nato. Profissão que ainda hoje existe, porém escassa.
Serviu a grandes e renomados agropecuaristas da região: Neto Elias, Antônio Soares, Arnor Francisco, etc. E, nas horas vagas, alegrava as tardes, com seu aboio, de tantos outros: Nélio Dias, Zeca Passos, Gilson Barros, Jalmir Medeiros.
O poeta das pastagens se foi, mas sua lembrança eternizou-se.
Ser vaqueiro é ser destemido, corajoso; é ser perseverante, ter paciência e sabedoria. É sua função buscar o gado e encaminhá-lo ao seu destino. O vaqueiro dá nome ao boi, sabe como tratá-lo e até conversa com ele (Câmara Cascudo, em Tradições Populares da Pecuária Nordestina).
O aboio é cantado pelos vaqueiros quando conduzem o gado de um lugar para outro. É um canto característico e próprio do Nordeste.
Segundo Câmara Cascudo, é de origem moura, trazido pelos escravos portugueses da Ilha da Madeira.
O aboio é um grito mais sincero da terra, e ao homem do campo serve e auxilia, não só quando tange o gado, mas também nos seus momentos de solidão nas longas estradas da vida.
É um canto lento, melancólico, no ritmo do movimento dos animais, sem se preocupar com estilo ou forma, “sem palavras, marcado exclusivamente em vogais, de livre improvisação” ( Câmara Cascudo – Dicionário do Folclore Brasileiro).
O aboio não se confunde com a toada, que é cantada em versos e rima. Cantiga também realizada no Nordeste, principalmente, nas festas de vaquejada.
E, afinal, o aboio é uma música? É uma poesia musicada ? Ou é um simples canto ?
Trata-se de uma arte, simplesmente, por ser uma criatividade humana, e como toda arte é marcada por liberdades.
A poesia de Henrique Castriciano fala do aboio, com esmero, ao dizer:
“Por isso, quando a voz do sertanejo entoa
O lamentoso aboio, a gente queda e cisma;
O nosso coração silencia e se abismo
No pégo da saudade e, lá do fundo arranca
Não sei que doce flor emurchecida e branca.
A letra da canção ninguém, ninguém conhece,
Mas sabemos que ali chora e geme uma prece
Desolada e subtil, cuja modulação
Si coubesse num ritmo, era o do coração.
E, quando o sertanejo, a larga fronte nua,
Voltada para o céu, de onde sorri a lua,
Diz, no cântico vago, o que a su’alma encerra,
Ah, nos sentimos bem que fala a nossa terra! “
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