Sertão: o palco das festas juninas

Data: 27/06/2025
Junho é o mês que nos conduz às festas juninas: Santo Antônio, São João e São Pedro. No Rio Grande do Norte, o interior é a melhor escolha, e o sertão, a mais genuína expressão dessas celebrações.
Neste ano, escolhi Angicos como destino. Cidade localizada na região central do Estado, com população estimada em cerca de 12 mil habitantes. O clima é semiárido: chove pouco e o calor é constante.
Entre suas belezas, destaca-se o Pico do Cabugi, uma formação rochosa com 590 metros de altitude. Alguns acreditam tratar-se de um vulcão extinto. Teorias à parte, é uma paisagem de rara beleza, que acalma a alma e encanta o olhar. Os mais aventureiros se arriscam a escalá-lo. Não me atrevo a tanto. Fico apenas na contemplação.
O município ganhou destaque nacional na década de 1960, quando se tornou palco do projeto-piloto de alfabetização de jovens e adultos, idealizado pelo educador Paulo Freire e implantado durante o governo de Aluízio Alves (1963). A proposta revolucionária — ensinar a ler e escrever em apenas 40 horas — tornou-se referência, como um dos mais importantes métodos educacionais para a erradicação do analfabetismo.
Antes de seguir para o centro da cidade de Angicos, fui sentir o cheiro do sertão na fazenda Guaporé. Cheguei em 13 de junho, uma sexta-feira, dia de Santo Antônio, para passar o final de semana. Era um dia de calor brando e nuvens carregadas. No fim da tarde, presenciei um pôr do sol memorável. Com o dia nublado, o sol se despediu lentamente, riscando o céu com tons dourados e amarelos, moldurando o horizonte do sertão de forma sutil, de uma beleza de difícil reproduzir.
À noite, na companhia de minha esposa e familiares, nos reunimos em torno da fogueira. O céu estrelado e a simplicidade do momento tornaram a reflexão a forma mais pura de alegria. O silêncio era entrecortado apenas pelo estalar das labaredas.
A Fazenda Guaporé, em Angicos, pertence à família de Nélio Dias. Era ali que ele costumava se refugiar. Segundo contava, era naquela terra que se reenergizava para enfrentar as batalhas do dia a dia. Aquele chão, até hoje, guarda muitas lembranças e desperta saudades…
No dia seguinte, acordei cedo — muito cedo — com o cantar do galo. Fui para o alpendre e fiquei ali quieto, imóvel, apenas observando o alvorecer. Vi a noite se despedindo e o dia nascendo, enquanto o sertão despertava ao som de uma sinfonia de pássaros. A natureza, mais uma vez, se revelava como o maior espetáculo da vida.
Após um café reforçado, típico do interior, marcado pelas comidas de milho, segui rumo à cidade de Angicos
Fui em busca do Santuário de São José, localizado na Igreja Matriz de Angicos. Um templo belíssimo, construído em 1836 sobre os alicerces de uma antiga capela erguida em 1813. A igreja apresenta traços do estilo neogótico, incomum na região, com destaque para a torre central com pináculo alto e fino, coroado por uma cruz. As janelas e portas em forma de ogiva (arcos pontiagudos) completam a identidade arquitetônica.
A imagem de São José com o Menino Jesus, instalada no altar-mor, é uma obra barroca impressionante, com mais de 200 anos. Foi trazida de Recife no século XIX e instalada inicialmente na capela original (1813). Desde então, tornou-se símbolo de fé e identidade da comunidade. É figura central das devoções e festejos de Angicos, ligada à esperança de chuva e à fertilidade do sertão.
O fim de semana passou, mas as lembranças permanecerão por muito tempo. Angicos inspira espiritualidade, e o Santuário de São José (1870) fortalece a devoção. Com um olhar atento, percebe-se que o Rio Grande do Norte tem muito a revelar — e o sertão, muito a ensinar.









