Saudação à inauguração do busto de Nélio Dias na Fazenda Guaporé

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 15/08/2020

Ao passar pela porteira da Fazenda Guaporé, a comoção toma conta de mim, o meu caminhar se torna mais lento, o coração aperta, cenas da vida surgem e ressurgem, dificultando a minha chegada à casa do meu pai.

 Neste instante, sou movido pela lembrança palpitante de Nélio Dias, que até parece estar vivo e a me esperar.

A Fazenda Guaporé era o seu refúgio e sua paixão.

Esse amor enraizou-se quando descobriu na caatinga, na criação do gado, no vaivém das cabras e na beleza dos verdes verdejantes da macambira e da jurema, o quanto havia ali de belo e grandioso.

Era a sua convivência intensa com as coisas boas da terra que fazia Nélio Dias sorrir com as larguras imensas do sertão pleno e soberano.

Além de seu amor pela terra, a Fazenda Guaporé trazia a Nélio Dias algo espiritual. Era naquele lugar que ele renovava as suas energias. Tinha nela uma espécie de amuleto, o que ali idealizava se concretizava. Momentos antes de comprá-la, disse: “deste chão saiu um deputado estadual: Ramiro Pereira e sairá outro político”. Era a magia do sertão que se revelava e o tocava!

A sua profecia tornou-se realidade. Mais tarde, na Fazenda Guaporé, foi idealizado o movimento “Grito da Seca”, que mobilizou e alertou a sociedade para os problemas do produtor rural. E logo a “voz do campo”, como Nélio Dias gostava de ser chamado, foi ecoar na Câmara dos Deputados, na defesa do povo nordestino. “Terra que o povo padece, mas não esmorece e procura vencer” (Patativa do Assaré).

Nessa terra árida, Nélio Dias escolheu para descansar e ser lembrado. Agora a sua esposa, dedicada e amorosa, em pedestal, coloca o seu busto, embaixo de um pé de algaroba, nascido das bênçãos da natureza, em frente ao Pico do Cabugi, a sua maior riqueza, para testemunhar o entardecer do sertão, anunciando o fim do dia.

Esse gesto simboliza o amor. Amor que Nélio e Nadja consagraram para eternidade, com a sua união perante a Igreja Católica, justamente, nesta data, em 15 de agosto (1968). Sentimento que não se pode apagar, feita na alma, com a chancela de Nossa Senhora de Fátima, cuja imagem, agora, está fincada ali perto para abençoá-los, ainda que um aqui e outro lá!

Como disse Santo Agostinho, em seu poema, “a morte não é nada. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos faria rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Eu não estou longe, apenas do outro lado do caminho. Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela, como sempre foi”.

E eu ouso dizer. Nélio Dias não foi. Ele voltou. Voltou às eternas fontes da vida, e como está junto às origens, sem começo nem fim, ele não morreu. Ele nasceu. Nasceu porque germina em saudade, para brotar em permanentes exemplos; e frutificar em renovadas ações de carinho, lealdade, cidadania, correção.

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