Quincas Saldanha: o lendário coronel do Oeste Potiguar
Data: 02/07/2023
No início no século passado, o interior do Rio do Grande do Norte, que tinha na pecuária a sua maior fonte de renda, destacando-se na criação de gado: em Currais Novos, o coronel Antônio Rafael Lopes; em Santana do Matos, Felipe Néri de Carvalho e Silva, o Barão de Serra Branca, passou a cultivar o algodão, trazendo desenvolvimento e mais riqueza para região.
Com o apogeu da cultura do algodão, conhecido como “ouro branco”, os proprietários rurais passaram a acumular riqueza nas fazendas, atraindo a atenção dos bandoleiros que as invadiam e as saqueavam.
A ausência do Estado no interior, fortaleceu o cangaço, que passou a dominar a região. Os cangaceiros aterrorizavam as cidades, realizando roubos, extorquindo dinheiro da população, sequestrando figuras importantes. A polícia estadual, com pouco efetivo, não conseguia inibir as ações dos cangaceiros, temidos pela violência e crueldade durante os ataques.
O cangaceiro era o produto da falta de justiça e da viciada educação política (Governador João Pessoa).
Alguns fazendeiros, embora demonstrassem oposição aos bandidos, achavam melhor conviver com eles, dando-lhes dinheiro, fornecendo mantimentos, oferecendo-lhes proteção, até escondendo-os em suas propriedades, quando vinham fugindo da polícia, conhecida à época por volante.
Eram os chamados coitos.
No Oeste Potiguar, passaram vários grupos de cangaceiros, sendo os mais famosos os liderados por Antônio Silvino e Massilon Leite. Entretanto, também, por aqui, passou o mais temido de todos: Virgulino Ferreira, o Lampião.
Mas, um fazendeiro da região, daquela época, com bravura, não se submetia aos caprichos do cangaço e o enfrentava a qualquer hora com determinação e destemor.
Tratava-se do afamado Quincas Saldanha, cuja história de vida merece ser contada.
Joaquim da Silva Saldanha nasceu, em 1872, na Serra do Teixeira, na Paraíba. Filho de Benedito da Silva Saldanha e Josefina Dantas Saldanha. Benedito foi Coronel da Guarda Nacional e Deputado Provincial da Paraíba.
Quincas Saldanha foi um grande e respeitado agropecuarista. Tinha muitas terras no sertão da Paraíba e do Rio Grande do Norte, distribuídas em várias fazendas (Aldeia, Manaus, Jerimum, Floresta, Amazonas, Alto,), onde criava uma imensa quantidade de gado e plantava muito algodão. Era um dos mais abastados daquela região. Contribuiu economicamente para o desenvolvimento do Nordeste brasileiro.
Mas, não só nesse seguimento foi importante e reconhecido.
Quincas foi Coronel da Guarda Nacional e chefe político, de atitude enérgica, exercendo papel de destaque na política na Paraíba e no Rio Grande do Norte, se tornando uma das pessoas, no século passado, mais influentes do sertão paraibano e do Oeste potiguar.
Na Paraíba, teve um grande poder político, principalmente, em Catolé do Rocha e Brejo do Cruz. Deste Município, um dos seus filhos, Francisco de Paula Saldanha, o Paulo, foi Prefeito.
Ali, também, travou grandes batalhas, com mortes para todo lado, defendendo a sua honra e as suas terras. Dentre elas, com o valente Antonino da Silva Saldanha, seu primo legítimo e ferrenho inimigo. Episódio que ficou conhecido como “O fogo de Santana”.
Naquela região era muito difícil vencer Quincas Saldanha. Nada nem ninguém lhe punha medo. Conservava em suas fazendas um efetivo de 40 jagunços, todos com montaria e extremamente armados, só aguardando as suas ordens, para o que desse e viesse. A sua liderança junto a seu povo era reconhecida e temida. Ordem dada, ordem cumprida!
Quincas era primo legítimo de João Dantas. Sua mãe era irmã de Franklin Dantas, pai de João Dantas. João Dantas foi aquele que assassinou a tiros o Governador João Pessoa, em 26/7/1930, na confeitaria Glória, na rua Nova, em Recife, fato considerado o estopim para a Revolução de 1930, que levou ao poder Getúlio Vargas, pondo fim a República Velha (1889-1930).
Quincas Saldanha, cuja coragem não tinha limites nem fronteiras, aliou-se às forças policiais da Paraíba, contra o destemido coronel José Pereira Lima, na Revolta de Princesa, fornecendo-lhe parte de seus jagunços.
A Revolta de Princesa foi a maior batalha armada da Paraíba, movimento liderado pelo coronel José Pereira Lima, deflagrado no município de Princesa, atual Princesa Isabel, na Paraíba, em fevereiro de 1930, em oposição ao governo estadual de João Pessoa, que culminou na separação do município da Paraíba, que perdeu força com o assassinato do Governador no mês de julho daquele ano, dando ensejo a acordo com o governo federal para a pacificação da Paraíba.
Em 1920, Quincas Saldanha foi morar em Caraúbas/RN, onde exerceu forte liderança naquela região.
O cangaço não punha medo a Quincas Saldanha; ao contrário, os líderes o respeitavam. Antônio Silvino, por exemplo, quando chegava na região, para entrar nas suas terras tinha que lhe pedir bênção; do contrário, seria recebido à bala.
Em 1927, quando Lampião se atreveu a atacar Mossoró, de onde foi expulso pela população, liderada pelo prefeito Rodolfo Fernandes, tinha o objetivo de antes atacar Caraúbas/RN. Mas, o Rei do Cangaço desistiu com medo de enfrentar Quincas Saldanha, seguindo talvez o conselho do cangaceiro Massilon, que havia entrado momentaneamente para o seu bando, e desviou a rota para não passar nem por perto das terras do Gato Vermelho, como assim chamava o Coronel.
O Coronel Quincas Saldanha foi um dos chefes Políticos do Oeste do Rio Grande do Norte que apoiou a Revolução de 1930 de Getúlio Vargas. Foi membro do Partido Nacional Socialista.
Em 1934, o seu irmão Benedito Dantas Saldanha, com seu apoio, foi eleito para Deputado Estadual do Rio Grande do Norte, e seu primo Francisco Martins Veras para Deputado Federal.
O afamado Quincas Saldanha foi casado com sua prima Joaquina Veras Saldanha e tiveram 10 filhos. Faleceu, em Caraúbas/RN, em 14/6/1936, aos 63 anos.
Hoje, quase 90 anos depois de sua existência, poucos sabem da sua vida. Contar um pouco dela, é recontar a figura do coronelismo e a história do sertão do século passado.
FONTES:
– Francisco Galbi Saldanha (A História Continua… Saldanha e Veras e suas Ramificações)
– Raimundo Soares de Brito (Nas Garras de Lampião)
– Cangaço Eterno (YouTube – 9/2/2023)
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