Prof. Arnaldo Azevedo: o estudo compensa e a educação é o caminho

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 25/12/2021

Em terras potiguares, no torrão bravo, de sol escaldante, nasceu Arnaldo Arsênio de Azevedo, em 12/6/1928. Último dos oito filhos de Agostinho e Belmira. O destino era a agricultura de subsistência. Se alimentar era o objetivo imediato. Estudar era difícil; para o fim de rama, era impossível, nem pensar!

O local era o Sítio Boqueirão, no interior de Parelhas/RN, onde o céu azulado descortina os penhascos da Borborema, emoldurando o horizonte.

Brasilino, vizinho de Agostinho, seridoense hospitaleiro e generoso, vendo seu amigo se sacrificar para sustentar oito filhos com escassos recursos, pediu para criar Arnaldo. Sem “pantim” ou arrodeio, consentiu. E o menino foi com ele morar.

O pai de criação, com apenas três filhas, tinha mais tempo para perceber que aquele menino, alto, franzino, calado e muito educado, se interessava pelas letras. Quando completou 12 anos, pensou: pode ser um padre. Desejo de todo sertanejo. Então, o enviou ao Seminário Diocesano de Caicó/RN.

Lá, a educação de qualidade chegou. E o menino passou a estudar, muito e de tudo, principalmente as línguas: latim, português e francês. A leitura era a sua diversão e o conhecimento a consequência.

No Seminário de São Pedro em Natal, onde depois estudou, completou a sua formação. Momentos antes de se ordenar padre, deixou o seminário. A sua vocação era outra. Fez vestibular para Direito e se formou na primeira turma do Rio Grande do Norte, em 1959, sendo o orador, por aclamação.

Àquela altura, não tinha mais como voltar ao sertão. O destino foi a Capital. Sem o amparo do seminário e sem condições financeiras, amargou momentos difíceis. Mas, nunca se desesperou. A calma era sua maior aliada. A fé motivadora.

Morando em Natal num quartinho, emprestado com muito carinho, nos fundos da casa de d. Josibela, de quem externava imensa gratidão e respeito, passou a ensinar português, latim e francês no Colégio 7 de setembro, no Instituto Batista Bereiano de Natal, no Atheneu Norte-riograndense, no Colégio Diocesano Seridoense, em Caicó. Com o dinheiro que ganhava passou a se sustentar e a sonhar.

Aí se encontrou, profissionalmente. A advocacia não fazia mais parte de sua vida. Ensinar era a sua vocação.

Com estudo e preparo, passou a ser professor da UFRN e, logo depois, também por concurso, foi professor do IFRN, tendo ali sido inclusive diretor geral.

Sua gestão à frente da então ETFRN, além de desenvolver um ensino de qualidade, foi marcada pela inauguração do ginásio de esportes do atual Campus Centro de Natal, pela criação do Coral Professora Lourdes Guilherme e pelo ingresso da primeira mulher nos cursos regulares da instituição, em 1975 (Portal – IFRN).

A língua portuguesa era sua paixão e ensinar o seu sacerdócio.

Arnaldo Azevedo era simples, despretensioso, sem vaidade pessoal, dedicado à sua família e aos amigos. Tratava a todos com muita cordialidade, principalmente as pessoas mais humildes. Estas tinham a sua especial atenção.

Católico praticante, frequentava a Igreja diariamente. Ele saiu do Seminário, mas a religião não saiu dele. Aconselhava o Clero Potiguar. Ao lado de Ulisses de Góis, formava a pilastra moral, não eclesiástica, da instituição católica do RN. Escrevia constantemente nos jornais católicos: A Ordem, o principal deles. Juntamente com Enélio Petrovich, Otto Guerra, Jurandyr Navarro, Felipe de Andrade formavam o grupo dos intelectuais católicos.

Para Arnaldo Azevedo, o diálogo sempre foi o único caminho para solução dos conflitos.

Era um amigo leal e de uma educação finíssima. Jamais teve um gesto de grosseria a quem quer que seja, mesmo quando não era tratado com delicadeza.

Arnaldo casou com Amazilde, a quem amava com exaltação. Com ela teve: Artêmio e Augusto. Seus filhos, alegria dos seus passos.

Arnaldo escreveu o livro “Aspectos da Nossa Língua” e publicou diversos artigos nos jornais locais (Diário de Natal e Tribunal do Norte). Situou-se no Estado entre as maiores autoridades no domínio da Língua Portuguesa (Ascendino Almeida). Foi um gramático sem gramatiquice, um filólogo sem arrogância, com extraordinária formação humanística (José Melquíades).

Com conhecimento e seriedade, foi Secretário Estadual de Educação no Governo de Lavoisier Maia (1979/1982); Presidente do Conselho Estadual de Educação e Cultura (RN), Chefe da Delegacia Regional do Ministério da Educação (DEMEC/RN) e Presidente do Conselho Estadual a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC.

O Professor Arnaldo foi um obstinado pela educação, intransigente na defesa do convívio harmonioso e respeitoso entre as pessoas, sempre em busca incessante do consenso e da paz, com o objetivo de se ter um mundo melhor.

Tendo vivido de forma tão intensa, o Prof. Arnaldo enfrentou a vida com bravura. Mas, aos 63 anos se deparou com o seu maior obstáculo: cardiopatia. Viajou para São Paulo para debelar o problema e a cirurgia foi inevitável. Apesar de exitosa, foi traído por uma repentina e brutal hemorragia (devido à administração de medicamentos não recomendados) não lhe dando oportunidade de luta, tirando-o do convívio familiar, em 18/9/1991.

Naquele momento se preparava para assistir ao casamento de seu filho mais velho. Mas, isso não foi possível… parece que a sua missão celestial era outra e urgente! E a tão esperada bênção do pai não ocorreu; porém, a marca do exemplo de Arnaldo Azevedo se fez presente, tornando-se molde de vida, para que os filhos sejam, para os seus, tudo que ele foi: pai terno, solidário e entusiasta; esposo dedicado e amoroso. A marca está na alma, marca feita com o ferro em brasa da mão apaixonada, carinhosa e ética de seu pai.

Seu desmedido amor à sua gente e à sua família, a quem transmitiu o seu exemplo de honradez e dignidade, traços marcantes de sua personalidade, será fonte de inspiração para um Brasil, atualmente, cheio de ódio e carente de atos cristãos e humanos.

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