Padre Miguelinho, um herói potiguar

Data: 14/12/2024
Em uma tranquila manhã de Domingo, ainda com a voz de sono, saí passeando pela cidade de Natal. Foi então que, no percurso, me deparei com a Rua Padre Miguelinho, na Ribeira.
Ali, pude observar vários prédios destruídos e em ruínas. Por esses espaços, um dia, circularam importante instituição financeira, agências marítimas, sindicatos e lojas de varejo — pilares do comércio e do desenvolvimento do Estado. Hoje, apenas testemunhas silenciosas de um passado vibrante.
Naquele instante, confesso que a tristeza tomou conta de mim, ao ver a história de Natal esvair-se, como se perdesse no tempo.
Caminhei mais um pouco e parei diante da casa que nasceu e morou o Padre Miguelinho – fato registrado em uma placa agora desbotada – onde apenas o descaso se apresenta e o abandono reina, como reflexo do esquecimento que assola o patrimônio da cidade.
O herói natalense parecia estar sepultado no desprezo daquela casa e na insensibilidade do Poder Público, que deveria transformar aquele lugar em um museu, e não em um cemitério de indiferença e esquecimento desse grande idealista.
Seu compatriota Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, talvez por ter nascido nas Minas Gerais, teve um reconhecimento diferenciado. Foi alçado a Patrono Cívico do Brasil e recebeu mais homenagens — registradas em feriado nacional, estátua de bronze em diversos locais, nome de praça, município e museu, e outras referências. Contudo, a luta pelos mesmos ideais os iguala.
Padre Miguelinho teve um papel e um significado, em termos nordestinos, tão grande, quanto à Inconfidência Mineira. Miguelinho, se estudado com percuciência, se revelará um novo Tiradentes; e os ideais que assomavam o movimento de 1817 eram os ideais também dos inconfidentes com características, talvez, mais revolucionárias: de aprofundamento e modificações sociais pedidas e requeridas (Sanderson Negreiros).
Miguel Joaquim de Almeida e Castro é o seu nome de batismo. Ele nasceu em Natal, em 1768. “Foi morar no Recife aos dezesseis anos e, em 1784, ingressou na Ordem Carmelita da Reforma, adotando o nome Frei Miguel de São Bonifácio. Em 1800, tornou-se padre por ordenação do Papa Pio VII.”
Foi mestre de retórica no Seminário de Olinda, instituição que ajudou a fundar, juntamente com o Frei Caneca, com base nas ideias iluministas. Proferiu o discurso inaugural da escola, marcando sua dedicação ao ensino e à formação intelectual.
O Padre Miguelinho lutou pela independência do Brasil durante a Revolução Pernambucana, ocorrida em 1817. Esse movimento, que ocupou Recife em março daquele ano, estabeleceu um Governo Provisório e proclamou a República, durante três meses. Ele foi um dos líderes e Secretário-Geral desse governo.
O Padre Miguelinho é um herói nacional. Precisa ser mais reconhecido e valorizado, a começar por Natal, a cidade onde nasceu.
A Revolução Pernambucana, o último movimento separatista do período colonial, surgiu em meio à crise socioeconômica que afetava o Nordeste. Inspirada pela Revolução Francesa (1789), buscava a liberdade e a independência de um povo sofrido.
O Padre Miguelinho, um natalense de raiz, não se acomodou com a tranquilidade do ensino de retórica. Ele decidiu se engajar na luta pelos ideais revolucionários, buscando construir uma terra livre e independente no Nordeste brasileiro, ainda que essa luta pudesse ser difícil e desigual, custando-lhe a própria vida.
Foi preso em 21 de maio de 1817. Assumiu corajosamente os seus atos. Não delatou seus companheiros de luta. Por isso, foi condenado à morte e levado para Salvador, onde foi executado por fuzilamento no dia 12/6/1817. Seu corpo foi enterrado no Cemitério do Campo da Pólvora.
Esse natalense ilustre não pode ser expungido. Sua luta pela independência e seu legado merecem ser enaltecidos. As homenagens que recebeu em Natal – como o nome da escola no bairro do Alecrim, o nome da rua na Ribeira e o nome do prédio da Câmara de Vereadores – são importantes, mas não suficientes. É necessário que se faça algo mais a fim de que sua história seja transmitida às futuras gerações.
Não podemos esquecer os nossos guerreiros, que desbravaram caminhos, com suor e sangue, para que pudéssemos ter um país melhor e mais justo.
Fontes:
Fatos e fotos de Natal Antiga
Sanderson Negreiros – TN 9.7.2017
Memorial Legislativo – Câmara Municipal de Natal
Os Notáveis – Jurandyr Navarro








