Obra de arte: expressão e sentimento

Data: 19/10/25
Esta obra de Newton Navarro tem significado familiar. Foi adquirida por meu avô paterno, talvez atraído por sua expressividade nordestina, já que conheceu de perto os grotões do sertão, no baixio da Serra de Martins, onde nasceu e viveu a infância.
Com o seu falecimento, a obra passou a meu pai, que lhe conferiu nova dimensão, não apenas pelo desejo ardente que nutria por ela, visível em cada olhar que lhe dirigia, mas também pelo sentido profundo que nela se revelava.
Meu pai, homem da cidade, mas de vocação sertaneja, via no campo mais que um espaço físico, via um território de fé, esperança e resistência. Para ele, o sertão era um símbolo do Brasil interiorano, de um povo sofrido, mas dotado de força e dignidade.
Com a ausência de meu pai, ficaram as lembranças da vida e da arte, como essa, eternizada por Navarro.
É inegável a carga afetiva que uma obra de arte pode conter. Nesse contexto, seu valor torna-se inestimável.
Sendo do campo ou da cidade, a expressividade dessa obra de Newton Navarro ultrapassa o que talvez tivesse imaginado o artista: ganha asas e vidas na imaginação de quem a contempla.
“A arte tem alma, mas o homem não” (Oscar Wilde).
A figura do homem pregado ao mandacaru, contrastando ao fundo com a vegetação sofrida sob o sol escaldante do semiárido, estabelece uma evidente analogia entre Cristo e o sertão, traduzindo em um paradoxo: a dor que se confunde com a crença; o sacrifício que se converte em esperança.
Com sua linguagem poética e visual, Navarro retrata o sertão como reflexo da própria vida: dura, mas capaz de gerar beleza e significado.
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