O verão dos tempos modernos

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 18/12/2022

Morando em Natal, em meados do século passado, uma cidade pequena, com pouco mais de 100.000 habitantes, rodeada de praias, a diversão não poderia ser outra.

Nas férias, a procura eram as praias, preferencialmente as mais distantes da cidade, menos habitadas, em busca de mais tranquilidade.

Nos anos 60, na época do meu pai (adolescente), a busca era por Ponta Negra. Para chegar lá, não era fácil, a estrada era de barro, gastava-se uns 30 minutos. A permanência ali dependia de se levar alimentação, porque no local não tinha onde se comprar. Tratava-se de uma vila de pescadores.

Sem televisão, a distração era a praia. Para os adultos, tomar banho de mar e conversar nas varandas das casas. Para as crianças, correr, jogar bola, fazer castelo de areia, e subir e descer o Morro do Careca, hoje cartão postal de Natal e patrimônio cultural protegido por lei.

Ver os arremessos das redes ao mar pelos nativos, exímios pescadores, era outra atração. A chegada dos peixes na praia era a alegria da meninada.

Na nossa infância, no início dos anos 80, a cidade com população aproximada de 400.000, não foi diferente. Apenas a praia mudou. A escolha foi Muriú/Jacumã, praias mais distantes de Natal, pertencente à Ceara-Mirim/RN.

Acesso, à época, também era ruim, boa parte da estrada de barro; com calçamento, só até Extremoz. De Natal, gastávamos cerca de 1 hora de carro. Por ter a praia uma área maior, outras opções tivemos. Por serem cercadas de dunas e lagoas, percorríamos o local: andávamos nas dunas, descíamos os morros em tábuas, tomávamos banho de lagoa.

Com um pouco mais de desenvolvimento e opção náutica, adquiríamos um motor de popa, e de barco exploramos mais o mar e fizemos muitas e muitas pescarias.

Só nos aventurávamos ir ao mar, com pescador. Não só nos dava segurança, mas também era quem indicava o pesqueiro, sem ajuda de qualquer aparelho eletrônico (GPS). Marcava os pontos no olho, tendo como referência, alguns indicativos geográficos, como, o morro tal, a ponta qual. Era, de fato, impressionante aquele profissional do mar.

Com limitações de variedades de automóveis e restritos a estrada pavimentada, um construtor local, Marcos Neves, criou um veículo que andava na areia com facilidade, chamado de selvagem. Naquela ocasião, foi uma revolução no mercado automobilístico no Rio Grande do Norte. A esse inventor potiguar, pelo seu brilhantismo, todas as honras e glórias.

Através do selvagem, de cara ao vento, explorávamos outras praias do litoral norte do nosso estado: Barra de Maxaranguape, Caraúbas, Touros, Pititinga, Maracajaú, Rio do Fogo, São Miguel do Gostoso, Zumbi e Galinhos…

Televisão era precária, aqui e acolá pegava, com imagem ruim. Com canais limitados à Globo, o divertimento não era assistir TV.

Diante da distância, passávamos as férias de janeiro na praia, não vínhamos sequer a Natal. Sem ter telefone nas casas, para falarmos com alguém em Natal só através de um único posto telefônico em Muriú. Este local virou um ponto de encontro. O precário virava diversão.

Nesse rumo, a próxima geração: anos 2000, a das minhas filhas, contando com uma Natal mais populosa (700.000 habitantes) e com mais alternativas de divertimento, a escolha natural, sempre buscando a tranquilidade e a beleza natural, seria Maracajaú, considerada o Caribe do Rio Grande do Norte, com águas claras, parrachos, piscinas naturais em meio ao oceano formadas pelos arrecifes. Localizada a 54 km de Natal, pertencente ao Município de Maxaranguape, seria mais uma vila de pescadores a ser habitada pelos veranistas.

Chegamos até a cogitar em adquirir um terreno por ali. Mas, não foi isso o que aconteceu.

Com o desenvolvimento do país, e, consequentemente, do Rio Grande do Norte, a modernidade chegou. Só que veio trazendo a insegurança. Natal, cidade pacata e segura, nos tempos atuais não é mais. Assaltos à mão armada passaram a acontecer à luz do dia e a torto e a direito. Sem estrutura policial adequada nas praias, principalmente do interior, a bandidagem tomou conta do Estado.

Aí a opção foram as praias mais perto de Natal, Pirangi, por exemplo, e a escolha foram as casas em condomínio.

Não demorou e foi construído o Condomínio Porto Brasil Resort, erguido em cima das falésias de Pirangi do Norte, com acesso a três praias: a dos Lamartine, do Flamengo e a Prainha. Um dos locais mais bonitos do litoral norte-rio-grandense.

Nesse refúgio, a nova geração se encontrou: celular à mão, redes sociais à disposição, YouTube, WhatsApp, etc. e a televisão (HD) à sua espera: Netflix, Globoplay.

Um verdadeiro bairro, cercado de muros, com segurança privada. Ali, tudo tem. Na alimentação: restaurante, lanchonete, sorveteria. No esporte: quadra de tênis e de beach tennis; quadra de futebol e de basquete; quadra de vôlei; academia. No lazer: piscinas, grande, média, pequena, para crianças e para adultos, com vistas para o mar ou não, saunas, hidroginásticas. Sem se falar, ainda, na diversão, os eventos proporcionados com bandas: réveillon, abertura do verão, luau, etc.

Como todo bairro, aos domingos, tem missa, em espaço ecumênico do condomínio. Mas, no Natal e no Ano Novo, a missa é campal, com direito a cânticos diferenciados.

A praia, que antes era o ator principal, virou coadjuvante, mas no palco da diversão tem também seu papel: alguns tomam banho de mar, jogam frescobol, praticam o surfe.

Hoje é assim o verão dos tempos modernos. Melhor ? Não sei.

Voltar