O relógio da Junqueira Aires: famoso e centenário

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 23/07/2021

No início do século XX, nem todos tinham condições de ter um relógio de algibeira ou de pulso. Mas, o tempo era importante e ninguém poderia deixar de cumprir horário. Daí a necessidade de se investir em relógio público, como equipamento urbano.

Natal não foi diferente e saiu na frente.

Em 1911, foi instalado o belíssimo relógio – obra do prestigiado escultor inglês, Mortimer Brown (1874-1966), feito em ferro fundido pela Fundição Val d’Osne, França – pelo Governador Alberto Maranhão, quando começou a urbanização e o embelezamento da cidade no início do século XX.

O local escolhido foi a Av. Junqueira Aires (hoje Câmara Cascudo). Bem no alto da ladeira, na esquina da esplanada, hoje o Sesc, e nos fundos do 21⁰ Batalhão dos Caçadores do Exército, atualmente a Escola Estadual Winston Churchill.

O relógio urbano acompanhou o crescimento de Natal e o seu desenvolvimento: do trampolim da vitória à capital espacial do Brasil. Vivenciou a “Belle Époque Natalense”. Viu a cidade subir os morros de Petrópolis e Tirol, ganhando os ares praianos.

O relógio da Junqueira Aires não só viveu a glória.

Assistiu, de perto e a sua volta, bem ali no 21⁰. Batalhão de Caçadores: a Intentona Comunista de 1935. Militares revoltosos, em nome da ANL (Aliança Nacional Libertadora) e com o apoio do PCB (Partido Comunista Brasileiro), se levantaram contra o governo de Getúlio Vargas, entre 23 e 27 de novembro de 1935, chegando, no Rio Grande do Norte, a destituir o governador Rafael Fernandes e a Assembleia Legislativa, por 4 dias.

Outro episódio testemunhou, a bravura de um sertanejo: Tristão Barros (1896­/1936), prefeito de Currais Novos, depois de defender seus ideais de liberdade e de igualdade, denunciando os trânsfugas que ameaçavam a ordem e a estabilidade de sua pátria, ser à traição e covardemente assassinado, em 21/03/1936, por um Oficial do Exército. Vítima, talvez, da radicalização e da repressão política ocorrida após o insucesso da Intentona Comunista de 1935.

Esse bravo potiguar deixou saudades e fez falta ao Rio Grande do Norte, não só pela sua capacidade intelectual, mas também pelo seu destemor em repudiar as mazelas da sua região e defender o desenvolvimento e o progresso do país.

“Imolado, sim, vencido nunca!” (José da Penha).

O famoso e centenário relógio não pode ser esquecido e ficar escondido no seu anonimato numa esquina da cidade. Ele merece maior atenção e a população tem o direito de preservar a sua história. Dar-lhe destaque é dever do poder público. O mundo cuida e dar notoriedade às suas obras de arte. Natal não pode ser diferente.

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