Newton Navarro: um ícone da cultura do Rio Grande do Norte

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 19/02/2022

Newton Navarro Bilro se sobressaiu na arte, pintando temas simples: o sertanejo, o pescador, a rendeira, as tradições culturais populares e as paisagens da cidade de Natal. Expressava-se, nela, as imagens de seu dia a dia, suas lembranças de infância e as suas experiências da boemia natalense.

Em cada um dos seus quadros, a poesia (Dorian Gray).

Com inteligência e muita simplicidade, notabilizou-se nas artes plásticas. A beleza da pintura está nos traços e na técnica, não apenas no cenário. O simples pode ser belo e sofisticado.

Em entrevista, Navarro disse: “mesmo quando pinto Dom Quixote, eu desenho um Dom Quixote vestido de vaqueiro, com traços e características do homem nordestino” (JB – 12/6/1980).

Nota-se, na obra de Navarro, que quando homenageou o nordestino o fez sempre demonstrando um povo forte e vencedor, o que merece aplausos. Diferente de outros artistas, alguns de renome nacional, que se preocuparam em mostrar mais as mazelas da região, ainda que o seu esplendor bucólico seja de uma beleza significativa.

Simplesmente um artista plástico extraordinário.

Newton Navarro deixou um legado de dimensão nacional, equiparado aos grandes pintores brasileiros.

Em Recife, estudou e viveu “um tempo de florescente movimento intelectual” e lá conviveu com artistas plásticos reconhecidos em Pernambuco, tais como: Reinaldo Fonseca, Aloísio Magalhães, Lula Cardoso Aires, Hélio Feijó e Cícero Dias. Também manteve relação pessoal com nomes importantes da intelectualidade pernambucana como Gilberto Freyre e Francisco Brennand.

Mas, não parou por aí.

Navarro realizou exposições em Salvador, Brasília e Rio de Janeiro. E teve em outros lugares. Onde passou fez bons amigos: Érico Veríssimo foi um deles; Jorge Amado foi outro; Di Cavalcanti não se pode esquecer. Visitou Paris, Madrid e Lisboa, expondo e vendendo seus quadros.

Esse artista nunca saiu de evidência. Vivenciou o momento de efervescência cultural em Natal, ocorrido logo após a Segunda Guerra Mundial (1939/1945), depois da passagem dos soldados americanos na cidade. Com Dorian Gray, representou o movimento modernista de Natal.

Ao contrário de muitos pintores do mundo que podem ser facilmente definidos como pertencentes a uma escola, Newton Navarro passeia com a mesma habilidade pelo expressionismo, cubismo e surrealismo, durante sua primeira fase (1950 a 1980). O estilo de sua pintura mudava pelas influências que o artista recebia. A partir de 1980, os historiadores da arte acreditam que ele estava assimilando a linguagem moderna. Logo, a comparação com Portinari se torna bastante evidente (Prof. Dr. Lenin Campos).

O artista participou em Natal da Escolinha de Arte Cândido Portinari, de grande valor artístico e social. Ali conheceu Salete, de quem foi amiga por vários anos. Com ela se casou, aos 52 anos.

Não só na pintura se destacou.

Na condição de escritor fez sucesso e como poeta foi inesquecível. Escreveu incontestáveis artigos jornalísticos (Tribuna do Norte e Diário de Natal) e publicou livros de contos, poesias, crônicas e novela: Subúrbio do Silêncio (poesias, 1953); Solitário Vento do Verão (contos, 1961); Crônicas Não-selecionadas (crônicas, 1563); Beira-Rio (crônicas, 1970); Os Mortos São Estrangeiros (contos, 1970); De Como se Perdeu o Gajeiro Curió (novela, 1974); Do Outro Lado do Rio e Entre os Morros e ABC do Cantador Clarimundo (poesias).

Ocupou, merecidamente, a cadeira 37 da Academia Norte-Riograndenses de Letras.

Newton Navarro nasceu em Natal, em 08/10/1928. Viveu seus últimos anos em companhia de sua querida esposa, Salete Navarro, sua companheira de trabalho e de vida, tendo falecido em 18/03/1992, sem deixar filhos.

Newton Navarro apresenta sua cidade com o traço apontador de uma beleza imediata. Não lhe comove o risco de surpreender Natal somente. Vai além. Projeta a alma natalense em desenho carregado de paixão: suas ruas, seus becos, suas esquinas, o mar e o rio riscam-se de encanto e fixam-se em nós como que sobrelevados, mágica que o ser guarda e a imaginação continua (Sanderson Negreiros).

Esse natalense amou Natal como ninguém. Enalteceu a cidade e a divulgou Brasil afora, evidenciando a sua beleza natural. Cidade cênica, nascida nas brancas dunas e sob o olhar da estrela da manhã, tendo como palco o Rio Potengi, a plateia o oceano atlântico e o cenário a madrugada acesa. À Praia da Redinha deu alma e fez dela a personagem principal. E o espetáculo ainda em cartaz…

Para o próprio Navarro, lugar melhor não existia: “uma cidade coberta de alísios, embalada pela canção dos pescadores, enfeitada de um lado e de outro, rio e mar, pelos azuis e verdes e pelas jangadas”.

Newton Navarro vale a cidade inteira. Porque ninguém mais do que ele reúne melhor os tons e os semitons da terra (Veríssimo de Melo).

Daí a justa homenagem de ter sido colocado o nome da principal ponte da cidade, que liga a Zona Sul à Zona Norte de Natal, de Newton Navarro. Melhor nome não representaria tão grandiosa obra.

Alterar o nome da Ponte Newton Navarro, por qualquer outro, ainda que seja o da Governadora Wilma de Faria, que a construiu e é merecedora incontestável, é um ato que causa tristeza e desalento e, sobretudo, desrespeitoso à memória da Governadora que, por sua própria iniciativa, assim foi denominada.

O potiguar não pode silenciar a essa enorme falta de sensibilidade. Defender o nome de Newton Navarro é proteger a história e prestigiar a cultura local.

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