Mãe Luíza: um bairro, uma história

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 17/05/2022

Mãe Luíza, antes de assim ser chamada, era simplesmente dunas.

Brancas dunas, de larguras imensas e de paisagens de profunda beleza, com o olhar estendido ao Atlântico, testemunhava o nascer do sol, descortinando o horizonte resplandecente, com o prenúncio de novos tempos.

Oh! Mãe Luíza, como você era bela e ingênua.

E hoje, quando falo de você, sinto-me como “envolto pela luz de mistério que vem de um sol agora poente, de beleza distante”.

Por sua localidade e altura, foi fincado ali o Farol de Natal, sob o domínio da Marinha do Brasil. “Torre em tijolo cilíndrica com lanterna”, medindo 37 metros, contendo uma escadaria com 151 degraus em espiral. Estrutura essencial para guiar a navegação, cuja lanterna do alto do Farol tem um “alcance luminoso de 39 milhas náuticas, ou 72 quilômetros”.

O Farol – construído pela empresa de Gentil Ferreira de Souza, sob a fiscalização da Capitania dos Portos do RN – foi inaugurado em 1951, com a presença do Governador Sylvio Pedroza, e revela uma das mais belas vistas de Natal, apresentando as praias de Ponta Negra, Areia Preta, Dos Artistas, Redinha e Genipabu.

Por causa de sua luminosidade, pessoas – vindas do interior do Estado, fugindo da seca, e sem acesso à eletricidade, ainda escassa na Capital – construíam suas moradias próximas ao Farol de Natal.

E assim começou a ocupação do local, desordenada e sem atenção dos governantes da época.

Uma das primeiras moradoras a habitar a localidade foi Luíza Pirangi. A parteira ali fez história, auxiliando as mulheres grávidas a terem seus filhos e ajudando a quem dela necessitava. Por isso era chamada de “Mãe” Luíza.

Pela sua solidariedade com quem chegava e ali morava, o local, conhecido por Monte do Bode e, também, por Novo Mundo, passou a ser denominado de Mãe Luíza. Mais tarde, em 1958, foi definido como bairro, com esse nome, pelo Prefeito Djalma Maranhão.

Na localidade, além de Luíza, moraram grandes figuras. Uma delas foi Black Out, pseudônimo de Edgar Borges, poeta, cuja poesia foi menosprezada pelo sistema. Outra, foi Pedro Grilo, poeta e artista plástico. Irreverente e boêmio pintou Natal antiga, na essência. Da fachada de sua casa, fez arte; de letreiros comercias, fazia sua renda. Artista visual de excelência.

Hoje, Mãe Luíza não é mais bucólica e esplendorosa, o perigo mora ao lado. O tráfico de drogas tomou conta do local e o Estado perdeu o controle, a ordem que impera é a do traficante, quem sofre a consequência é a população, com assaltos e assassinatos.

A solução, talvez, seja a reurbanização do bairro, trazendo-lhe embelezamento e prosperidade, assim como a realização de políticas públicas eficazes, para que se possa desfrutar mais da área com segurança e com direito à melhor vista panorâmica da cidade.

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