Natal, mais que festa, é história

Data: 08/02/2025
Natal, minha bela cidade, você não é apenas sol, praia e celebração efêmera. Você é história viva, marcada por eventos que lhe garantiram um lugar imortal no cenário nacional e internacional.
A festa passa, a lembrança se esvai, mas a história é eterna. É patrimônio que transcende gerações, testemunho duradouro da nossa identidade. Conservá-la é um dever cívico!
Aqui, os portugueses pisaram pela primeira vez, dando início à colonização. Expulsamos franceses e holandeses, desbravamos os céus com a aviação, fomos o Trampolim da Vitória na Segunda Guerra Mundial e nos tornamos referência na exploração espacial.
E, no entanto, nos limitamos a promover festas e festas. É festa de Natal, de Carnaval, e, também, de São João… E até onde isso nos leva? Enquanto celebramos sem reflexão, o tempo avança e nossas memórias históricas se apagam, empobrecendo nossa cultura.
O bairro da Ribeira, coração do comércio natalense no século passado, segue esquecido. A Cidade Alta, berço da nossa fundação, agoniza no abandono. O Alecrim, outrora pulsante, vê-se desgastado pelo descaso, perdendo-se entre o passado e um presente negligente.
O Cemitério do Alecrim (1856), o primeiro da cidade, é uma memória viva, mas um passado esquecido e sepultado. Ali repousam figuras como João Câmara, com seu monumental mausoléu, e Januário Cicco, personalidade repleta de reminiscências, além de nomes ilustres como Pedro Velho, Café Filho e Juvino Barreto. Também há túmulos de famílias estrangeiras, que lembram a imigração natalense, povoando a cidade no início do século passado, e combatentes da Segunda Guerra. Entre lápides anônimas, histórias únicas lutam para resistir ao tempo. Entretanto, em meio ao descuido, a história se perde entre os muros, silenciada pelo abandono.
Recentemente, entre o tintilar dos Sinos de Belém na véspera natalina de 2024, perdemos, da noite para o dia, um belíssimo prédio histórico na Avenida Rio Branco. O imóvel abrigou a residência de Romualdo Galvão – personalidade expoente -, além de fervoroso abolicionista, foi ex-prefeito de Natal e Mossoró. No lugar, ergue-se um estacionamento, para guardar carros, não memória! Nenhuma proteção, nenhum tombamento – apenas o desinteresse de quem deveria preservar.
Antes disso, já havíamos deixado ruir o Hotel Reis Magos, símbolo promissor do turismo potiguar, e o Grande Hotel, marco arquitetônico abandonado à própria sorte.
Enquanto a Europa preserva sua memória e nos cobra caro para apreciá-la, aqui destruímos a nossa, sem pena nem dó.
E os nossos heróis, que derramaram sangue, suor e lágrimas por Natal, caíram no esquecimento. Padre Miguelinho, mártir da Revolução Pernambucana; Ulisses Caldas, bravo combatente na Guerra do Paraguai; Augusto Severo, visionário da aviação e inventor do dirigível Pax. Nomes que deveriam ser exaltados, mas que a memória da cidade insiste em deixar para trás.
Se devemos festejar, que celebremos com os artistas da terra, valorizando nossa cultura e identidade. Assim, evitamos o desperdício de altos recursos financeiros, que poderiam ser melhor empregados em benefícios duradouros para a cidade.
Natal, como esquecer José Mauro de Vasconcelos e seu Meu Pé de Laranja Lima, ou deixar de reverenciar Homero Homem e seus Cabras das Rocas? Em vez disso, celebra-se artistas de fora, com promoção de festas, saciando prazeres momentâneos e embriagando-se em instantes fugazes, enquanto a memória da terra se dissipa no esquecimento.
Natal, valorize-se. Você é muito mais que um destino de festas – você é memória, cultura e história viva.
Imagens:
– Telas do artista plástico Pedro Grilo







