Monsenhor Walfredo Gurgel: uma história de vida
Data 26/05/2024
Walfredo Dantas Gurgel foi uma figura emblemática na história do Rio Grande do Norte. Nasceu em Caicó e se dedicou ao sacerdócio católico e à política. A sua vida foi repleta de episódios e acontecimentos notáveis, que merecem ser lembrados e estudados.
O último filho do Prof. Pedro Gurgel e d. Joaquina Dantas (Mãe Quininha), ao nascer em 2/12/1908, foi chamado de Armando. Mas, antes de ser batizado com esse nome, tudo mudou. O Cônego Emídio Cardoso pediu aos pais que aquele menino se chamasse Walfredo, em homenagem ao Monsenhor Valfredo Soares dos Santos Leal, um areiense que se destacou na Paraíba, na religião e na política, chegando lá atrás a governar esse Estado, além de representá-lo na qualidade de deputado estadual, deputado federal e senador da república.
Órfão de pai aos 9 anos, o menino Walfredo Gurgel, consciente da dificuldade financeira da mãe, parteira das boas da cidade, passou a ajudá-la nas vendas de produtos agrícolas (jerimum, batata, macaxeira, frutas) e, principalmente, dos doces feitos por ela, nas feiras da região, para completar a renda familiar, formada apenas com a pensão de professor municipal.
Mas, a vida de Walfredo, menino inteligente e estudioso, tomou outro rumo. Em visita a Caicó, o terceiro Bispo de Natal (1922-1928), Dom José Pereira Alves, um dos mais importantes e sábios que por aqui passou, foi procurado por Mãe Quininha que lhe pediu para seu filho estudar para ser padre, que não tinha condições para isso, o que foi prontamente atendida.
Dom José levou, então, Walfredo Gurgel para Capital e o matriculou no Seminário São Pedro, em 1921, de onde foi considerado um dos melhores alunos que ali passou. Com essa credencial, foi enviado para Roma, em 1926, com apenas 21 anos, onde se formou em Filosofia e Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana.
A sua ordenação em presbítero (padre) foi realizada em Roma, em 1931, tendo celebrado ali a sua primeira missa. Retornado ao Brasil em 1932, também, Doutor em Direito Canônico, foi designado Capelão do Hospital das Clínicas e do Orfanato Padre João Maria, em Natal. Depois foi vigário em Acari, e, em seguida, em Caicó, chegando mais tarde, a vigário geral.
Não demorou e recebeu o título honorífico de Monsenhor pelo Papa Pio XII, em 1955, como passou a ser chamado e ficou conhecido no Estado.
Como sacerdote católico, Monsenhor Walfredo exerceu um papel fundamental na disseminação da religião e na promoção de atividades sociais e educacionais. Ele fundou escolas e instituições beneficentes no Estado, contribuindo para a formação educacional e moral dos jovens.
Exemplificando: foi Reitor do Seminário São Pedro e professor de Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Natal. Fundou e dirigiu o Colégio Diocesano de Caicó.
Além de suas atividades religiosas, Monsenhor Walfredo também se destacou na política. Ele foi deputado federal, eleito para o mandato de 1946/1951, constituinte na Constituição da República, promulgada em 1946, e assumiu o mandato, na legislatura de 1951/1954, na qualidade de suplente. Foi senador da república, de 1963/1965. Representou dignamente o Rio Grande do Norte no Congresso Nacional.
Durante sua carreira política, ele defendeu os interesses e as necessidades da população do Estado, lutando por políticas públicas que beneficiassem a região.
Em 1960, Monsenhor Walfredo foi eleito vice-governador do Rio Grande do Norte, na chapa encabeçada por Aluízio Alves. Porém, passou pouco tempo por ter, em 1963, assumido a cadeira no Senado da República.
O seu apogeu na política do Rio Grande do Norte deu-se quando foi governador do Estado, eleito para o mandato de 1966/1971.
Durante seu mandato, implementou diversas obras e ações em áreas como saúde, educação, infraestrutura e agricultura, buscando promover o desenvolvimento do Estado.
O governo do Monsenhor Walfredo Gurgel foi realizador e inovador. Foram aproximadamente 130 obras, como apontou o advogado José Daniel Diniz, seu Secretário de Finanças, registradas no seu livro (O Governo do Monsenhor Walfredo Gurgel).
Posso destacar: o primeiro Pronto Socorro de Natal, mais tarde denominado de Hospital Walfredo Gurgel; a Biblioteca Pública de Natal: Câmara Cascudo; 19 Grupos Escolares no interior do Estado; 6 açudes; distribuição de energia de Paulo Afonso a 59 cidades do interior do Estado; o Instituto Winston Churchill em Natal; a primeira ponte de Igapó. Só essa obra já seria suficiente para consagrar seu Governo.
A administração de Walfredo Gurgel ficou marcada por sua austeridade no trato com a coisa pública. Se pautou pela responsabilidade fiscal e o combate ao desperdício de dinheiro público, evitando gastos desnecessários.
Na política do Rio Grande do Norte, fez um governo de coalizão, estabelecendo a paz pública, ouvindo todos, correligionários e adversários, rompendo com o radicalismo de outrora, fruto de disputa eleitoral acirrada entre os líderes Dinarte Mariz e Aluízio Alves.
Monsenhor Walfredo Gurgel fez uma carreira política movido pela chama ardente do idealismo. A sua vida de homem de bem, o que prova o seu desempenho na Igreja e na coisa pública, aliada a uma capacidade de servir, fez dele um idealista visando a felicidade de sua terra e de sua gente (Jurandyr Navarro).
Monsenhor Walfredo Gurgel faleceu , em 1971, aos 62 anos e está sepultado na Matriz de Ant’Ana, em Caicó. Deixou um legado significativo para o Rio Grande do Norte. Sua atuação tanto no campo religioso quanto no político é reconhecida e admirada até os dias de hoje, sendo considerado um dos grandes nomes da história do Estado.
Monsenhor Walfredo é a prova de que os sonhos são a visão da alma, o desejo profundo do coração. Quando se sonha com intensidade e convicção, está-se plantando as sementes da realidade. Acreditar nos sonhos é abrir as portas para sua realização.
Fontes:
José Daniel Diniz (Livro – O Governo do Monsenhor Walfredo Gurgel)
Jurandyr Navarro (Os Notáveis dos 500 anos)
Rejane Cardoso (400 nomes de Natal)
Senado Federal
Tribuna do Norte
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