Memória de Monsenhor Honório, o “Santo” de Macau

Data: 01/11/2025
Hoje resolvi recordar a vida de um homem, cuja presença marcou para sempre a história de Macau e, consequentemente, do Rio Grande do Norte.
Falo de Joaquim Honório da Silveira, nascido em Macau, em 14 de janeiro de 1879. Sua existência foi um dom oferecido a Deus e ao seu povo até o dia 1º de novembro de 1966, quando encerrou sua jornada terrena, aos 87 anos de idade.
Iniciou seus estudos em Macau e, em 1895, ingressou no Seminário Episcopal da Paraíba, sendo ordenado padre em 9 de novembro de 1902, aos 23 anos.
Chamado pelos macauenses de “Santo de Macau”, Monsenhor Honório não apenas exerceu o sacerdócio, fez de sua vida um testemunho vivo de fé, humildade e serviço.
Por duas vezes à frente da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em Macau, criada em 1854, a primeira de 1902 a 1913 e a segunda de 1938 a 1966, Monsenhor Honório dedicou-se a fortalecer a fé do povo, fundou importantes associações católicas e semeou o bem, conquistando corações pela força do exemplo e pela generosidade da caridade.
Assumiu, em 1913, a Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação em Natal, sendo, no ano seguinte, transferido para a Paróquia de São João Batista em Assú, onde permaneceu até 1926. Nessa cidade, idealizou e participou da criação do Educandário Nossa Senhora das Vitórias, dirigido pela Congregação das Filhas do Amor Divino: um dos pioneiros no ensino feminino no Estado.
Educador, por vocação, Monsenhor Honório foi também diretor do Colégio Diocesano Santo Antônio (atual Marista) e reitor do Seminário São Pedro. Em cada missão, deixou a marca de um mestre exigente, mas justo; de um sacerdote austero, mas profundamente humano.
Homem estudioso e dedicado, manteve amizade com Dom José Pereira Alves, terceiro bispo da Diocese de Natal (1923/1928), cuja inteligência, cultura e eloquência marcaram o clero potiguar para sempre. Quando o Bispo foi transferido em 1928 para a Diocese de Niterói – uma das mais importantes do Brasil à época, por ser a capital do Estado do Rio de Janeiro (1903/1975) – Monsenhor Honório o acompanhou, servindo lá como secretário do bispado, reitor do Seminário São José e pároco.
Sacerdote honrado e inteligente, trouxe, dessa experiência, uma visão mais ampla da Igreja, sem jamais se afastar de suas raízes. Macau, sua cidade e sua gente, permaneceu sempre no seu coração e no centro de sua missão.
De volta à sua terra, idealizou e ajudou a fundar o Ginásio Nossa Senhora da Conceição, em 1956, instituição que julgava indispensável para a formação da juventude macauense. Hoje, em justa homenagem, a escola leva seu nome: Centro de Educação Integrada Monsenhor Honório.
A educação, para Monsenhor Honório, era parte essencial do sacerdócio. Mesmo diante de múltiplas responsabilidades paroquiais, dedicava-se à instrução do povo, acreditando que ensinar era também evangelizar. Onde quer que tenha estado, deixou sua marca no campo educacional: ajudando, idealizando, fundando ou dirigindo instituições de ensino.
Foi em Macau que inspirou iniciativas culturais e sociais, como a Filarmônica Monsenhor Honório, fundada em 1910 e ainda hoje viva, como um hino permanente à memória daquele que disseminou fé. Monsenhor é, ainda, patrono da cadeira 9 da Academia Macauense de Letras e Artes – AMLA.
Macau, grata e fiel, perpetuou o nome de Monsenhor Honório em ruas, praças, no colégio e até mesmo no cemitério público municipal. Seu amor por Macau era inconfundível. Em cada gesto, em cada palavra, revelava o orgulho de ser filho daquela terra abençoada. Para ele, Macau não era apenas o berço onde nasceu, mas o lar espiritual que o inspirou e sustentou ao longo de toda a vida.
Monsenhor Honório, em seu sacerdócio, foi incansável no amparo aos mais desvalidos. Era um homem que, sempre que solicitado, atendia com prontidão, humildade e a palavra certa, no momento preciso. A uns, levava a unção dos enfermos, muitas vezes no silêncio da madrugada; a outros, a graça do batismo, sem jamais medir distâncias. Realizava os sacramentos em qualquer canto ou recanto. Ajudar era sua sina; evangelizar, sua missão. Despido de ambições materiais, nada possuía além da roupa do corpo, e isso lhe bastava. Nada mais o atraía senão o servir.
Sacerdote de vida simples e pura, pregou a verdade, convicto de que só a verdade edifica, liberta e transforma. Com suas orações e suas preces fervorosas, fez-se verdadeiro apóstolo da fé.
Hoje, Monsenhor Honório descansa no chão sagrado da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Macau. Seu túmulo tornou-se lugar de homenagem, de oração e de esperança. Ali, muitos vêm não apenas lembrar um sacerdote, mas sentir a presença de alguém que, mesmo ausente fisicamente, continua a guiar, proteger e acolher.
No plano superior em que agora habita, segue fiel ao cumprimento de sua missão. Aqueles que nele confiaram e depositaram seus pedidos mais difíceis testemunham as graças recebidas por sua intercessão.
Ao revisitar sua trajetória, compreendo que Monsenhor Honório foi muito mais que um padre, um educador, um conselheiro dos aflitos: foi – e continua sendo – verdadeira luz para toda a comunidade.
Para sua sobrinha, Alda Silveira Dias, Monsenhor Honório foi tudo isso e ainda mais. Foi um pai espiritual, guia nos anos da juventude e, mais tarde, sua força e amparo. Com a passagem dele para a eternidade, o vínculo entre ambos se fortaleceu: a ele confiava sua fé, suas preces e seus silêncios, e nada lhe faltou, nem respostas.
De Monsenhor Honório, Alda herdou a palavra viva – uma forma especial de comunicação – que, através de cartas, transmitiu aos seus descendentes, e que servia de consolo nas horas de amargura. Hoje, em cada lar da família, há um retrato desse sacerdote, símbolo de lembrança, gratidão e, sobretudo, devoção.
A vida de Monsenhor Honório mostra que a santidade não está distante. Mas, para mim, ela não depende de reconhecimentos formais, nasce do serviço cotidiano, da dedicação generosa e da entrega sem reservas.
“Existem criaturas humanas tornadas pontos de referência no espaço e no tempo. Afirmam-se como testemunhos e exemplo, irradiam-se em sugestões, nucleando acontecimentos, situações, perspectivas. Monsenhor Honório, nos quadros macauenses, participa dessa condição excepcional” (Américo de Oliveira Costa).
Espero que a memória de Monsenhor Joaquim Honório da Silveira continue a inspirar; que sua fé seja exemplo; sua bondade, o caminho; e sua obra, um convite permanente à esperança.
Fontes:
seminariosaopedro@.org.br
Revista Comemorativa das Bodas de Ouro (09/11/1953)




