Luiz Gonzaga do Monte: um sacerdote, um sábio

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 24/12/2022

Luiz Monte não era potiguar, mas aos 14 anos veio morar em Natal e não mais saiu. Aqui estudou, se formou e exerceu seu ofício. Daqui partiu para eternidade, aos 39 anos, deixando saudades e exemplos.

Nasceu, em 3/1/1905, em Vitória de Santo Antão/PE. Foi o primeiro dos cinco filhos de Pedro e Belarmina Monte. Seu pai, em busca do sustento da família, trabalhou duro na construção de estrada de ferro, passando por várias cidades, até vir morar em Natal, em 1917.

Luiz Gonzaga do Monte e sua família, nessa época, viviam com poucos recursos, mas não lhes faltava solidariedade: mola propulsora para felicidade.

Com sede de conhecimento e uma missão a cumprir, iniciou os estudos no Colégio Santo Antônio (Marista) e, depois, entrou no Seminário São Pedro, e lá se encontrou. Ser sacerdote era a sua vocação.

Em 1927, o seu sonho se tornou realidade. Aos 22 anos, foi ordenado padre, por Dom José Pereira Alves, um dos mais importantes e sábios Bispos que em Natal passou.

Surge aí o padre Monte que, antes de tudo, impressionava pela “modéstia, a obediência, a piedade e a pureza”, como bradava com orgulho Dom José.

A sua vida sacerdotal era a coisa mais importante para ele. Exerceu seu papel com afinco e na sua plenitude: celebrou missas, recebeu confissões, realizou casamento, deu conselhos, fez caridade, ajudou o próximo. Serviu ao Senhor, com honra e glória, agindo de acordo com os Seus ensinamentos.

Luiz Gonzaga do Monte foi um verdadeiro padre, o grande destaque de sua geração sacerdotal. Em 1941, pelo reconhecimento por serviços prestados à Igreja, foi sagrado cônego, título eclesiástico conferido pelo Papa.

A intelectualidade do padre Monte impressionava e ia além de sua religiosidade. Estudou, com profundidade, Teologia e Filosofia. Mas, foi adiante, estudou Matemática, Física, Biologia, Química, Geologia, Psicologia, História, Direito e Literatura. Também, não descuidou do Português e de outros idiomas. Poliglota, falava oito línguas. Em Latim era inigualável.

Autodidata, adquiriu sozinho um cabedal de conhecimento que fazia acreditar tivesse cursado academias ou universidades, como registrou o Cônego Jorge O´Grady de Paiva.

Quando ia falar em público, silenciava a plateia. Do tema só tomava conhecimento no momento da palestra, pois não tinha necessidade de conhecê-lo antes, poderia falar sem precisar se preparar com antecedência. Poucos têm essa condição. Mas, ele a tinha e era brilhante.

Não havia fronteiras para a sua inteligência. Chegou a dominar toda a ciência de seu tempo. Nada escapou à sua curiosidade intelectual. A investigação era o seu mundo. Nenhum domínio científico fugiu ao âmbito de sua erudição (Cônego O’Grady).

O Padre Luiz Monte ensinou Matemática e Latim no Atheneu Norte-Rio-Grandense, no Colégio Marista e no Imaculada Conceição. Distribuiu conhecimento e formou cidadãos. Era um professor que fazia a diferença, atraía a atenção e o interesse dos alunos. Falava de tudo com sabedoria, porém, não se despregava dos pilares imprescindíveis para formação de um cidadão: pátria, família e a religião.

As suas aulas transmitiam e refletiam reverberações de luz da moral católica. Jamais dissociou a ciência da religião (Jurandyr Navarro).

É muito para um normal, mas razoável para um gênio (Fernando Antônio Bezerra – TN – 27/9/2020).

O Padre Luiz Monte foi o primeiro vulto eminente da Cultura do Rio Grande do Norte aclamado sábio. Os seus estudos transcendentes devassaram múltiplas ciências (Jurandyr Navarro).

Publicou inúmeros artigos em jornais e revistas, assim como escreveu livros: a) Fundamentos Biológicos da Castidade; b) o Livro das Revisões; c) Compêndio de Biologia.

No Rio Grande do Norte, foi membro do Instituto Histórico e Geográfico e acadêmico-fundador da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras (primeiro ocupante da Cadeira 22), como reconhecimento do que representou para cultura do Estado.

O padre Monte, aos 39 anos, contraiu subitamente forte tuberculose e, com bravura e força interior imbatível, lutou contra ela, mas não a venceu. Faleceu, em 1944. Certamente, o Senhor, a quem tão bem serviu, assim o fez porque tinha outra missão para ele, tão relevante quanto aquela que, aqui, a ele entregou.

Durante a internação do padre Monte no Hospital Sanatório Getúlio Vargas (atualmente Hospital Giselda Trigueiro), sem alarde, foi assistido pelo médico Milton Ribeiro Dantas e acompanhado por Aluízio Alves, seu ex-aluno do Atheneu e amigo pessoal, que lhe prestou toda a solidariedade.

Por sinal, no momento do falecimento de Padre Monte, Aluízio Alves estava ao seu lado e assim relatou: “vi aproximar-se a morte. Acendi vela, pus nas suas mãos, ante os olhos conscientes e tristes, que, pouco depois, se apagaram” (Tok de História).

Padre Monte é desses homens que: “deveriam ser proibidos de morrer. Mas, a condição humana implica a morte. Entretanto, num estranho paradoxo, são exatamente homens como esses que, quando se encantam, deixam atrás de si um rastro tão luminoso de atos, uma senda tão vigorosa de passos, que por isso mesmo tornam-se imortais. Não só na saudade, mas na grande e vigorosa alma do coletivo social a que serviu” (Governador Iberê Ferreira de Souza).

Fonte das fotos:

http://dasdores2011.blogspot.com.br/2014/01/http://www.dhnet.org.br/nivaldomonte1/familia.htm

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