José Mauro: um escritor inquestionável

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 18/11/2023

José Mauro de Vasconcelos foi um escritor conhecido, dentro e fora do Brasil, por suas obras infantojuvenis, com sucesso de vendas e bem avaliado pela crítica literária.

Foi um dos maiores romancistas brasileiros, embora o seu nome, atualmente, não seja bem lembrado no Rio Grande do Norte, mas está sendo aplaudido, ainda, por milhões de seus leitores no exterior (Jurandyr Navarro – Os Notáveis).

José Mauro nasceu no Rio de Janeiro, em 1920, em razão de seus pais estarem morando ali. Mas, suas raízes são natalenses.

Seus primeiros anos de vida não foram fáceis, diante da dificuldade financeira de seus pais. Mas, com a morte do pai, ainda criança, José Mauro veio para Natal morar com o tio, o médico Ricardo Paes Barreto, filho de Juvino Barreto.

Aqui, estudou e concluiu o ensino médio no Colégio Marista. Apesar das adversidades da vida, ele gostava de ler e tinha uma grande paixão pela literatura (Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo,).

José Mauro ingressou no Curso de Medicina, no entanto não concluiu, abandonou no 2⁰ ano. Tentou outras coisas, porém nunca acabava.

Irrequieto, viajou para o Rio de Janeiro, São Paulo e ainda para fora do Brasil, sustentando-se por meio de vários serviços: garçom, operário, agricultor, pescador, modelo, lutador de boxe, professor, etc. Até morar em uma tribo de índio morou! Talvez seu lugar preferido.

Puro viajante, aventureiro mesmo.

José Mauro, diante de suas aventuras e a sua vivência, ricas em histórias, passou a contá-las com desenvoltura por onde andava, prendendo a atenção de todos.

Depois disso, dotado de inesgotável imaginação e privilegiada memória, passou a registrar por escrito esses acontecimentos e a escrever romances. E não parou mais, tornando-se um escritor de sucesso.

De mero contador de história a escritor famoso.

José Mauro estourou na qualidade de escritor e se consagrou, ao escrever “Meu Pé de Laranja Lima”, romance juvenil que se tornou um clássico da literatura brasileira. “Foi traduzido para 52 línguas e publicado em 19 países, adotado em escolas e adaptado para o teatro, televisão e cinema”.

Essa obra, considerada a mais importante do escritor, conta a história de um menino pobre chamado Zezé, que encontra conforto em um pé de laranja lima. O livro, que mistura momentos de ternura, tristeza e esperança, tornou-se um enorme sucesso no Brasil e no exterior.

Antes, porém, desse sucesso já havia escrito mais de 10 livros, com destaque para Barro Blanco (1948); Arraia de Fogo (1955); Rosinha, Minha Canoa (1962) Doidão (1963); Confissões do Frei Abóbora (1966) e Vamos Aquecer o Sol (1974).

Sua verdadeira vocação era, de fato, a literatura, e José Mauro decidiu dedicar-se integralmente à escrita.

“Não se sabe se é da brisa do mar, o calor do sol, do aroma dos morros, a suavidade do clima, que dá a Natal essa fonte energética e inspiradora do Belo, da Arte, da Literatura, da Ciência” (Jurandyr Navarro – Os Notáveis).

Em Natal, José Mauro viveu a sua infância e a sua adolescência. Banhava-se no Rio Potengi e nele aprendeu a nadar, ainda criança. Na natação, tornou-se referência e fez fama. Aqui, ganhou vários campeonatos, principalmente em provas de grande distância.

“Ele só pensava em nadar, em apanhar sol, em ser livre…” (Doidão). Até nas suas angústias, a natação era seu escape. Certo dia, chateado com a vida, tirou a roupa na praia e entrou de mar adentro, nadando sem parar por horas – a cada braçada cenas da sua vida passava – quando percebeu já estava longe demais para voltar, não via mais as casas de Natal de tão distante que estava. Aí, muito cansado, bateu o desespero, mas, antes de se afogar, foi resgatado por um barco pesqueiro.

As travessuras de José Mauro não paravam…

Nos anos 50, recém chegado do Rio de Janeiro, trouxe da então Capital Federal uma sunga, calção de banho curto. Ao estrear em Natal, na praia dos Artistas, a recepção não foi boa. As senhoras da alta sociedade não aprovaram. Acharam-na indecente. Em certo ocasião, quando estava na praia de sunga, chamaram a polícia para detê-lo pela prática de ato obsceno. Quando os policiais chegaram e foram enquadrá-lo, ele fugiu pelo mar. Exímio nadador, ninguém chegou perto e ele escapou do cerco policial.

Ao longo de sua carreira, José Mauro de Vasconcelos escreveu mais de 20 livros, entre romances, contos e crônicas. Suas histórias são marcadas pelo realismo e pela sensibilidade, abordando temas como infância, pobreza, solidão e superação. Típica literatura brasileira.

Artista talentoso, José Mauro também enveredou para o cinema e a televisão, trabalhando em diversos filmes: “Carteiro Modelo 19”, “Fronteira do Inferno”, “Floradas da Serra”, “Canto do Mar”, “Na Garganta do Diabo” que, inclusive, lhe renderam prêmios.

José Mauro, escritor brilhante e de talento inquestionável, morreu, em 1984, aos 64 anos, em São Paulo. Tendo feito grande sucesso com o público, não pode cair no esquecimento, principalmente na sua terra Natal.

Fontes:

José Mauro de Vasconcelos (Doidão)

Diógenes da Cunha Lima (Cinzas e Diamantes – Blogspot)

Severino Ramos Duarte (Sebo Balalaika)

Ticiano Duarte (TN – 20.07.2011)

Jurandyr Navarro (Os Notáveis)

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