José Maciel: um médico, um sonho que atravessou gerações

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 13/07/2025

Macaíba, no meado do século XIX, ocupava uma posição geográfica estratégica no Rio Grande do Norte. Às margens do Rio Jundiaí, afluente do Potengi, e no caminho da capital do Estado, a cidade florescia como centro comercial do interior. Era um ponto de encontro para produtos agrícolas vindos do sertão, que seguiam rumo à capital por via fluvial, impulsionando o desenvolvimento local, a partir do Porto de Macaíba.

Cidade próspera e vibrante, Macaíba atraiu pessoas de outros Estados e revelou grandes nomes potiguares.

Um deles foi Fabrício Gomes Pedrosa, influente comerciante e idealizador do Porto dos Guarapes: um importante polo de comércio, por onde se exportava e importava diretamente da Europa e dos Estados Unidos. Figura central da história local, é reconhecido como o fundador de Macaíba e o principal responsável por seu desenvolvimento, desde os tempos do sítio Coité até a transformação em povoado, que ele próprio batizou com o nome que hoje permanece: Macaíba.

Foi nesse cenário promissor que o jovem pernambucano Olympio Jorge Maciel chegou à cidade de Macaíba, vindo de Limoeiro, com certos recursos financeiros e, o mais importante, com muita disposição de trabalhar e vontade de vencer.

Estabelecido em Macaíba, destacou-se no comércio, sobretudo de algodão e de couro, atuando inclusive em parcerias pontuais com empresários de renome no Estado: João Câmara e João Mota. Investiu também na agropecuária, na Fazenda Arapiranga, importando, inclusive, gado da raça Indubrasil. Empreendeu ainda na geração de energia para o Município, implantando uma pequena usina própria, antes mesmo da chegada da energia de Paulo Afonso.

Homem de diálogo, coragem e firmeza, Olympio Jorge Maciel tornou-se figura respeitada na cidade. Casou-se com Elen Mesquita, mulher de profunda fé espiritual e parteira reconhecida na Região. Juntos tiveram duas filhas: Jenny e Maria, e um filho: José Jorge Maciel, nascido em 8/10/1914.

Zé Maciel era um menino determinado, com um sonho claro: ser médico. Naquela época, o Rio Grande do Norte ainda não contava com curso de Medicina, e o caminho era Salvador, Bahia.

Mais do que dedicação aos estudos, a jornada exigia sacrifício e, acima de tudo, o apoio familiar. O sonho parecia grande demais para época e para um menino do interior…

Foi assim, numa aliança de confiança entre pai e filho, que Zé Maciel começou a trilhar seu caminho. Ainda muito jovem, foi estudar em Mossoró, em regime de internato, enfrentando solidão e dificuldades. Com a invasão de Lampião à cidade, o pai trouxe o filho para Natal, onde concluiu os estudos no Atheneu Norte-Riograndense.

Preparado, confiante e impulsionado pelo incentivo do pai, Zé Maciel partiu para Salvador. Ao chegar, o vestibular disponível era para Odontologia. Prestou e foi aprovado. Mas, não era o que queria. Pouco tempo depois, abriu-se o vestibular para Medicina. Mais uma vez, prestou e conquistou sua tão sonhada vaga.

Formou-se médico em 1939, realizando o grande sonho e presenteando o pai com o diploma, símbolo da gratidão e da parceria entre gerações.

De volta ao Estado, o amor falou mais alto. Casou-se com Zuleide Mesquita Meira, mulher forte e determinada, com quem formou sólida parceria para vida toda, driblando dificuldades, enfrentando perdas, mas sempre caminhando, com passos firmes, para frente e com esperança.

Dr. José Maciel iniciou sua prática médica em Assú, a convite de Pedro Soares de Araújo Amorim, primeiro médico da cidade, ex-prefeito de Assú e ex-deputado estadual. Atuou como clínico geral, realizando de tudo, desde partos a pequenos procedimentos cirúrgicos, sempre com dedicação e humanidade. Na cidade, construiu grandes amizades, entre elas, com o Major Montenegro (Manoel Melo Montenegro), principal líder político da região e um dos maiores agropecuaristas do Estado.

Retornando a Macaíba — cidade onde nasceu e cresceu, e à qual desejava retribuir — passou a atender a população. Estendeu também sua atuação à Escola Agrícola de Jundiaí, fundada por Enock Garcia, um projeto inspirador voltado para o meio rural, que ele não hesitou em apoiar. Mesmo distante, fazia o trajeto a pé para realizar os atendimentos — um sacrifício que, para ele, sempre valeu a pena.

Embora não tivesse pretensão política, aceitou o desafio de ser prefeito de Macaíba entre 1953 e 1958. Sua gestão foi marcada pelo compromisso com o social, com o esporte e com a educação. Construiu o primeiro ginásio de futebol da cidade, criou a primeira unidade de saúde e investiu no ensino, fundando a Escola Comercial de Macaíba, dirigida por Aldo Tinoco, seu vice-prefeito.

Saiu antes do fim do mandato. Foi dar sua contribuição ao Estado como Secretário de Saúde durante o governo Dinarte Mariz (1956–1960), com ações voltadas à saúde e à justiça social.

Durante esse período, jamais se afastou da medicina, mas sentia que precisava ir além. Com orientação e incentivo do comerciante Luiz Cúrcio Marinho, mudou-se para Natal, em busca de ampliar sua atuação. Lá, assumiu a direção do Sanatório Getúlio Vargas. Ainda assim, sentia a necessidade de se especializar, de aprofundar seus conhecimentos e atuar com maior precisão em uma área específica.

Foi então que, ao lado do Dr. Otto Júlio Marinho — e por seu incentivo — se encontrou com a Radiologia. Com esse médico, estudioso e de poderosa inteligência, seguiram-se noites e noites de intenso estudos e dedicação a esse novo campo da medicina. Após adquirir os conhecimentos iniciais, viajou ao Rio de Janeiro para um curso de aperfeiçoamento.

Ao retornar a Natal, um recomeço. Trouxe consigo uma visão inovadora, em busca do diagnóstico precoce como o caminho promissor para cura das doenças, e acabou por revolucionar a radiologia potiguar.

Para concretizar esse sonho, precisou fazer um grande sacrifício: vender a Fazenda Arapiranga, herdada de seu pai. Não foi uma decisão fácil. Com os recursos obtidos, adquiriu seu primeiro aparelho de radiologia e tornou-se referência na área.

Instalou-se, inicialmente, no Hospital São Lucas, onde fez história e teve seu trabalho amplamente reconhecido. Em seguida, passou atuar no Hospital Médico Cirúrgico. Com a crescente demanda, aumentou sua equipe, formando uma sociedade com o jovem médico Paulo Bezerra, radiologista de formação,

e com seu filho, Olímpio Maciel, recém-formado em Medicina. Tempos depois, juntos, fundaram — ao lado de outros sócios — o Instituto de Radiologia de Natal, hoje integrado ao Grupo Fleury.

Foi nomeado médico-radiologista do Estado pelo governador Dinarte Mariz e, posteriormente, assumiu a chefia do setor de Radiologia do INPS. Em 1970, teve seu mérito reconhecido nacionalmente ao tornar-se membro do Colégio Brasileiro de Radiologia e da Associação Médica Brasileira.

Contudo, mais do que títulos, José Maciel se destacava por seu espírito coletivo, pela ética e pela generosidade. Nunca quis os méritos só para si, incentivava os jovens, dividia conquistas e valorizava os que com ele caminhavam.

Por suas amizades ligadas à esquerda, suas ideias associativas e voltadas para a justiça social, assim como seu apurado senso de justiça, chegou a ser chamado de comunista, mas nunca se deixou influenciar por rótulos: mantinha firmes suas convicções.

Sua maior paixão foi a esposa Zuleide, com quem teve quatro filhos: Olímpio, Nadja, Cleide e José. Com ela construiu não apenas uma família, mas um alicerce para todos os seus sonhos. Quem os conhecia via a cumplicidade no silêncio e nos gestos.

José Maciel partiu em 15/12/1995, com o sentimento do dever cumprido. Deixou marcas profundas na política, na vida social e na medicina do Rio Grande do Norte. Sobretudo, deixou um exemplo de dignidade, esforço e amor pelo próximo.

Fonte das imagens:

– Instituto José Maciel

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