Jesuíno Brilhante, precursor do cangaço nordestino

Data: 15/03/2025
Nos séculos passados, o interior do Nordeste foi palco de uma prática temida e violenta: o cangaço. Bandos formados por homens da região, fortemente armados, que saqueavam fazendas e pequenas cidades, deixando um rastro de violência e brutalidade.
Muitos ingressavam no cangaço movidos por vingança pessoal, geralmente após sofrerem injustiças dos poderosos em disputas por terras ou gado. Com o tempo, eram seduzidos pelo poder e pela força das armas. Quanto mais violentos, mais respeitados se tornavam.
Naquela época, o efetivo da polícia do Estado, com sede na capital, não chegava no interior, no sertão brabo. E quando chegava, em número muitíssimo reduzido, era controlado por poderosos coronéis, que comandavam também a política local. Valia a força do rifle e do punhal. A valentia se sobressaia ao diálogo.
No início do século XX, alguns cangaceiros ganharam notoriedade, como Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Massilon e Virgulino Ferreira, o Lampião, este último o mais famoso de todos.
Antes deles, contudo, em meados do século XIX, destacou-se um cangaceiro potiguar: Jesuíno Alves de Melo Calado, nascido em Patu/RN, em 1844, considerado o precursor do cangaço no Nordeste brasileiro.
Conhecido como Jesuíno Brilhante, até os 25 anos, levava uma vida pacata, era agricultor e criador, um excelente vaqueiro. No entanto, sua trajetória mudou drasticamente após um fazendeiro furtar uma de suas cabras e espancar um de seus irmãos. Ao tentar fazer justiça pelas próprias mãos, Jesuíno acabou matando o agressor e, a partir desse momento, ingressou no cangaço.
Jesuíno, apesar de estatura baixa, era muito forte. Tinha disposição de briga e era ágil, com habilidade com faca e um exímio atirador com arma de fogo. Era ambidestro, atirava com as duas mãos.
Diferente de muitos cangaceiros, era conhecido por seu senso de justiça e pelo respeito às suas vítimas, abordadas com mais gentileza. Diziam que jamais matou para roubar, apenas para defender a honra ou reparar injustiças. Não tolerava agressões contra inocentes.
Com o tempo, passou a atuar como uma espécie de justiceiro social, tirando dinheiro dos fazendeiros ricos e distribuindo aos sertanejos pobres, o que lhe rendeu comparações com Robin Hood.
Durante uma das maiores secas do Nordeste, em 1877, ao saber que a ajuda do governo destinada aos flagelados não chegaria ao povo — “sendo desviada pelos chefes políticos locais” —, ele, juntamente com seu bando, assaltou um comboio de alimentos, e distribuiu os mantimentos entre os necessitados.
Esse cangaceiro, considerado por uns, como justiceiro, não suportava ver injustiças e se incomodava ao saber de prisão ilegal de pessoas menos favorecidas, principalmente a mando dos coronéis. Então, atacava as cadeias e os libertava.
O folclorista Luís da Câmara Cascudo destacou que, no tempo de Jesuíno, a honra de moças e mulheres pobres era protegida.
Quando um abastado desonrava uma moça de família humilde, Jesuíno tomava providências drásticas: ou o agressor se casava com a vítima ou pagava com a própria vida.
Certa vez, hospedado na fazenda de quem lhe deu pouso, testemunhou a tentativa de abuso contra uma mulher cujo marido estava viajando. Ao ver que o agressor não recusava, Jesuíno o matou a facadas, defendendo a sua honra.
Jesuíno Brilhante encontrou seu fim em 1879, aos 35 anos, em Belém do Brejo do Cruz/PB, ao cair em uma emboscada de uma tropa policial. Foi atingido por dois tiros no peito. Sua história foi imortalizada na literatura e no cinema, e sua memória permanece viva no imaginário popular, principalmente em Patu/RN.
O certo é que “os fins não justificam os meios”.
O Estado paralelo, instaurado por quem quer que seja, ainda que sob o pretexto de lutar pelos mais vulneráveis, não se legitima nem merece aprovação. Pelo contrário, enfraquece o Estado Democrático de Direito, que devemos preservar e fortalecer, pois é a maior garantia de segurança e justiça para o cidadão.
Fontes:
– Luís da Câmara Cascudo – O Livro das Velhas Figuras;
– Eloy de Souza – Jesuíno Brilhante;
– Raimundo Nonato – Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico;
– Cariri Cangaço – Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro Romântico, por Ângelo Osmiro;
– Aventuras na História – Jesuíno Brilhante, o Primeiro Cangaceiro do Sertão, por André Nogueira;
– História Blog – Jesuíno Brilhante, o cangaceiro heróico, por Paulo Alexandre;
– Imagem processada pela IA Leonardo;
– Brasil Escola – Cangaço – por Tiago Soares Campos.
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