Geraldo Melo: o vento forte do Rio Grande do Norte

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 06/03/2022

O vento forte que transformou o tempo e que trouxe alegria deixou de soprar hoje (6/3/2022). Mas, as suas lembranças e o seu legado, certamente, não serão apagados pelo que representou aos seus e ao Rio Grande do Norte.

Tendo vivido de forma tão intensa e rica a vida, Geraldo Melo enfrentou com enorme bravura a morte, defendendo-se da doença maligna e insidiosa com as armas de seu espírito aguerrido e destemido.

Nessa luta não tem vencedor nem perdedor. A morte não é o fim da vida. A jornada não acabou. É apenas a passagem para o outro lado do caminho.

O vento forte do Rio Grande do Norte era diferente como há muito não se via…

A sua inteligência era incomum e a sua inquietude invejável. Em plena pandemia, Geraldo Melo escreveu, em meado de 2020, um excelente romance regional: “Luzes e Sombras do Casarão”. Uma viagem inesquecível ao sertão, cheio de mistérios e incríveis personagens.

Merecidamente, o reconhecimento veio a galope. Aos 85 anos, Geraldo Melo virou imortal da Academia Norte-Riograndense de Letras. Foi eleito, em 12/11/2021, para a cadeira número 32, que tem como patrono Francisco Fausto (um historiador mossoroense).

A sua imortalidade não foi só nas letras, se deu na vida.

No Senado da República, mostrou isso e seu reconhecimento foi notório. Nas Eleições de 1994, Geraldo Melo foi eleito Senador pelo PSDB. Não demorou e logo se destacou. Em 1997, foi eleito Vice-Presidente do Senado, reelegendo-se em 1999.

Geraldo Melo foi governador do Estado, de mar/1987 a mar/1991. Foi eleito pelo PMDB com o apoio do ex-Governador Aluísio Alves, de quem tinha sido no seu governo (1961/1965), aos 25 anos, Secretário Executivo da CED – Comissão Econômica de Desenvolvimento do Governo, embrião do que vinha a ser mais tarde a Secretaria Estadual de Planejamento, e a quem coube a elaboração de vários projetos, como, por exemplo, o de eletrificação e de telefonia, criando, inclusive, o órgão gestor (COSERN e TELERN).

Geraldo Melo: um talento fora do comum.

Nas eleições estaduais de 1986, surpreendeu e se superou politicamente. Colocou à prova a sua oratória, já conhecida e aprovada desde cedo por Dinarte Mariz, quando, aos 20 anos, o acompanhou discursando em palanques pelo Estado afora na sua campanha de governador em 1955, e pelo próprio Aluízio Alves, que o indicou, na época, a seu correligionário da UDN.

Numa campanha memorável, porém difícil, contra candidato querido e apoiado por grupo político forte, com hegemonia política no Estado há 12 anos, Geraldo Melo largou muito atrás, aos poucos foi chegando lá, até ultrapassar seu adversário na reta final, com uma diferença com pouco mais de 14.000 votos.

Vento forte soprando emoção para gente descrente de tanto sofrer…

Sem nenhuma popularidade e desconhecido pelo potiguar, mas com determinação e coragem, Geraldo Melo, tentando ainda viabilizar a sua candidatura dentro de seu grupo político, saiu convencendo o povo. E conseguiu concorrer. Obstinado, visitou todos os 152 municípios. Com uma oratória impecável, em cada canto falava – às vezes, sem se fazer enxergar, subia em um tamborete e ia em frente – e povo atento o escutava e de pronto respondia, levantando os braços, com o gesto de que com ele concordava, rumo à vitória. O tamborete virou símbolo de sua campanha.

Geraldo Melo, nas questões do governo, foi incansável em busca de um desenvolvimento digno para o Estado, sendo pioneiro em planejamento econômico. O seu governo se destacou na agricultura, tendo como marco a irrigação, e diferenciou-se dos demais com a segurança pública, com operações enérgicas e vitoriosa no combate ao crime.

Antes, em novembro de 1985, nas primeiras eleições diretas (feitas só nas capitais), Geraldo Melo havia coordenado a campanha vitoriosa de Garibaldi Alves Filho à Prefeitura de Natal, demonstrando seu alto poder de articulação e de decisão. Atributos já constatados ao dirigir o Diretório Estadual do PMDB em momentos difíceis (1983/1986), efetuando a sua reestruturação e participando da redemocratização do país, organizando os comícios aqui ocorridos (Diretas Já).

Na política, iniciou, em 1978, integrando a chapa – no cargo de Vice-Governador do RN – encabeçada por Lavoisier Maia, eleita indiretamente pela Assembleia Legislativa e empossada em março de 1979.

Geraldo Melo dignificou e enalteceu o Rio Grande do Norte.

Mas, antes da política, sua maior paixão, desenvolveu o agronegócio, com propriedade e dedicação.

No início da década de 1970, Geraldo Melo adquiriu a Usina São Francisco Açúcar e Álcool S/A, de Luiz Lopes Varela, e a Usina Ilha Bela S/A, de Odilon Ribeiro Coutinho, localizadas em Ceará-Mirim/RN, as quais foram fundidas num amplo projeto de modernização e reestruturação, por ele próprio elaborado, na Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim.

Seu lado empresarial veio com a sua formação econômica, adquirida em 1959, através do curso de planejamento do desenvolvimento econômico da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), na ONU, e, depois, em 1961, pelo curso de financiamento do desenvolvimento econômico do Centro de Estudos Monetários Latino-Americanos (Cemla).

Geraldo Melo foi membro do corpo técnico fundador da Superintendência para Desenvolvimento do Nordeste – Sudene (1959/1960), sob liderança do afamado economista Celso Furtado.

Tudo começou como acabou: escrevendo.

Geraldo Melo iniciou a vida profissional como revisor de um jornal da igreja: A Ordem. Depois, trabalhou no jornal Tribuna do Norte, inicialmente, na qualidade de repórter, em seguida, assinando uma coluna política, e, por fim, chefe de redação. Ali, conheceu Aluízio Alves, sua fonte de inspiração e seu maior incentivador.

Casou-se com Maria Edinólia Câmara, a razão de tudo, com quem teve cinco filhos: Pedro, Gustavo, Jerônimo, Renata e Geraldo Filho, alegria de seu caminhar.

Geraldo José da Câmara Ferreira de Melo nasceu, em 12 de julho de 1935, em Natal, mas suas raízes estão fincadas na cidade de Campo Grande, sertão brabo do Rio Grande do Norte, onde seus pais, Pedro Ferreira de Melo e Almira da Câmara Melo, nasceram e viveram.

“A vida significa tudo o que sempre significou, o fio não foi cortado…” (Santo Agostinho).

A retirada do convívio familiar, sempre prematura, deixa saudade… Saudade que certamente vai crescer no tempo de ausência. Crescer porque nessa saudade não há restos, pois Geraldo Melo permanece, não no que deixou para trás, mas no que fez presente e sempre: por sua família; pelos que dele se aproximaram, pelo Rio Grande do Norte e pelo País.

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