Floriano Peixoto: uma avenida de Natal, bela e esquecida

Data: 24/05/2025
No segundo domingo de maio, Dia das Mães, acordei mais tarde do que de costume e perdi minha caminhada matinal — aquela que costumo fazer ao raiar do sol, quando a cidade ainda respira brisa fresca e silêncio.
Já com o sol alto, por volta das 11h30, resolvi sair para um passeio em Petrópolis. Foi então que, ao passar pela Rua Dr. Manoel Dantas nas proximidades da antiga UnP, me deparei com a Avenida Floriano Peixoto.
Fiquei encantado, muito encantado.
Parecia que nunca havia passado por ali; ou talvez já tivesse, mas sem ver de verdade. A pressa do dia a dia costuma apagar os detalhes, roubar o encanto das coisas simples. Ou quem sabe a visão, agora amadurecida pelo tempo, finalmente consiga enxergar a beleza com a lente da experiência.
Levantei o olhar e me surpreendi com a beleza das árvores que ladeavam a via: majestosas, frondosas, de copas largas, que se estendiam em simetria até os arredores da Catedral Metropolitana. Ali, mesmo sob o sol escaldante de Natal, imperava a sombra, acolhedora e fraterna.
A sombra era tamanha que, independentemente da beleza, parecia anular o calor.
Ao observar melhor, percebi que eram oitis — árvores nativas da Mata Atlântica, conhecidas por sua resistência, permanência das folhas durante o ano inteiro e por sua adaptação ao solo e ao clima nordestino.
Essas árvores resistem ao tempo e às adversidades. Estão ali há décadas, talvez séculos. Embora ainda firmes, merecem mais atenção do poder público. Faltam políticas de preservação para um patrimônio botânico inestimável que, uma vez perdido, não será facilmente substituído: não só pela beleza, mas pelo valor histórico que carrega.
Enquanto caminhava sob as sombras dos oitis centenários, também encontrei um pouco da história da minha cidade, que remonta ao século passado. Casas antigas, algumas simples, revelando traços da arquitetura colonial; outras, mais imponentes para os padrões da época, traziam, em certos casos, influências mais sofisticadas do estilo eclético.
Aquelas casas que ainda preservam sua forma original tornam-se únicas e facilmente reconhecíveis.
Foi o caso da residência que pertenceu a Luiz Curcio Marinho e sua esposa, Letícia Cabral. Um sobrado de fachada sóbria e elegante, com traços modernistas. Figuras de destaque em Natal. Ele foi comerciante atuante nos tempos áureos de Macaíba, tendo inclusive governado o município nos anos 50.
Outra casa me trouxe lembranças pessoais: o imóvel onde moraram meu avô, José Maciel, e minha avó, Zuleide, quando se mudaram de Macaíba para Natal. Homem sonhador, médico pioneiro em radiologia na Casa de Saúde São Lucas e no antigo Hospital Médico Cirúrgico, e fundador do Instituto de Radiologia de Natal, referência na área. Mulher determinada e corajosa, traços herdados dos Mesquitas, família da qual faz parte.
Seguindo até o fim da Av. Floriano Peixoto, cheguei antes à esquina com a Rua Mossoró.
Ali, uma casa em ruínas chamou minha atenção. Pertencente ao Governo do Estado, conserva traços de uma arquitetura eclética, marcada por arcos e detalhes históricos. Foi a residência de Aristófanes Fernandes — ex-prefeito, ex-deputado estadual e federal, visionário industrial (usina de algodão, fábrica de borracha de maniçoba e mina de scheelita) e importante nome da agropecuária potiguar — e sua esposa, Maria do Céu Pereira, brilhante figura feminina (articulista e diretora de jornal em Currais Novos) e a primeira deputada estadual do Brasil.
Ao final do percurso, o sentimento era duplo: de alegria por redescobrir a beleza da Av. Floriano Peixoto e de tristeza por vê-la tão negligenciada. É um espaço que poderia — e deveria — ser mais valorizado, inclusive como área de lazer aos domingos, para que moradores e visitantes pudessem desfrutar da sua poesia silenciosa.
A Avenida Floriano Peixoto é um verdadeiro boulevard dos oitis: uma galeria viva de sombra, história e beleza.









