Embaraços em casamento é minha sina

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 02/09/2023

Prestes a ir a mais uma cerimônia de casamento na qualidade de convidado, a ansiedade me bateu, porque, em alguns desses eventos religiosos o inusitado sempre acontece.

Indo a qualquer casamento, chego na Igreja no horário marcado. Nem um minuto a mais nem a menos. A Igreja nesses dias, sempre enfeitada, é muito atraente. Me posiciono geralmente na parte da frente.

Naquele dia, não foi diferente, sentamos no banco mais próximo do altar: eu, minha mulher e minha mãe.

A noiva começa a entrar, no passo e no compasso da clássica marcha nupcial de Félix Mendelssohn, inspirada na peça teatral “Sonho de uma Noite de Verão” de William Shakespeare, antecedida por toques de Clarins Triunfais que destacam a importância deste dado momento.

Depois dessa atmosfera festiva e solene, a Igreja ficou em silêncio e iniciou a celebração do casamento. Antes, porém, o chefe do cerimonial se dirigiu a mim e disse:

– A noiva escolheu você para ler a leitura da missa.

E eu de pronto lhe respondi:

– Há um engano. Não sou próximo dos noivos para essa deferência.

Aí entra em cena minha mãe – uma figura alegre, extrovertida e irreverente – e mal deixou o homem falar e foi logo dizendo a ele:

– Agradeça a noiva e meu filho fará a leitura.

Chegou a hora. O cerimonial vai me pegar no banco, com pompa e direito a filmagem exclusiva. E aí começa meu périplo. A igreja espantada a me olhar, sem entender o porquê de eu estar ali. A noiva ao me ver faz um trejeito facial, que eu entendi como um sinal de reprovação. Mas, àquela altura, eu não tinha muito o que fazer, nem como recuar: fiz a leitura a mim confiada e agradeci a todos.

Instantes depois chega a confirmação: o escolhido tinha sido o irmão da noiva, a quem ela queria prestigiar e fazer uma surpresa. O cerimonial confundiu a pessoa. O equívoco foi desculpado, mas o constrangimento ficou.

Em outro casamento, liberei minha esposa para entrar e eu fiquei fora da Igreja, para evitar outro vexame.

Dessa vez, fiquei na porta da Igreja distraído. Começa a entrada dos padrinhos da noiva. Uma madrinha, minha conhecida, diante do atraso de seu par e muito apreensiva com a sua vez chegando para entrar, não se fez de rogada, me pegou pelo braço, e entrou comigo na Igreja.

Atônita, minha esposa, me pergunta:

– O que é isso ? O que foi que aconteceu ?

Aí eu respondi com a frase de Chicó do Auto da Compadecida, sempre que finalizava uma história duvidosa:

– “Não sei, só sei que foi assim”.

De convidado a padrinho; de casado a quase divorciado.

Para outro casamento fui convidado. Me antecipei e disse logo a minha mulher:

– Não vou mais para celebração. Só para recepção.

De pronto, retrucou a minha esposa.

– Temos que ir. Trata-se de um casamento de uma parente próxima e querida.

Já trêmulo e morrendo de medo de o acaso me fazer de vítima mais uma vez, respondi firme:

– Mesmo assim não pretendo ir. Não passarei mais contratempo.

Minha mulher começou a insistir, argumentando que não poderíamos perder a entrada triunfal da noiva, provavelmente, com o “Coro Nupcial” de Richard Wagner, composta em 1850, trecho da opera Lohengrin. Aí não resisti…

Nesse dia, na celebração, nada de inusitado aconteceu. Ufa! Mas, a minha sina do casamento me acompanhou, agora, na recepção.

Com a chegada dos noivos na festança foi aquela euforia. Abraços e cumprimentos. O local tinha pouca luminosidade.

Nessa ocasião a mãe do noivo, que eu não conhecia, naquele alvoroço, chama pelo apelido do filho, que sonoramente se assemelha com meu nome, eu olho e vou para perto dela; ela, repentinamente, sem olhar para mim, me pega pelo braço, e de braço dado saímos pelo salão a acenar para todos, até que paramos numa mesa e ela, ao me apresentar aos convidados, olha para mim. Aí veio o choque daquela senhora e a ríspida pergunta:

– O que é isso ? Quem é você ?

O mal-entendido foi desfeito, a festa continuou, mas o vexame ficou!

Independentemente do que possa acontecer, o casamento é um momento especial na vida de um casal e a marcha nupcial ninguém pode perder. É uma tradição que remonta a séculos, honrando o passado e celebrando a continuidade da vida familiar.

As duas marchas aqui citadas se popularizaram depois que a Rainha Vitória da Inglaterra as utilizou em seu casamento, em 1840: a de Wagner na entrada e a de Mendelssohn na saída.

A marcha nupcial cria uma atmosfera de beleza e encanto. A música vibrante e solene toca o coração dos presentes, proporcionando um momento de reflexão e emoção, inesquecível.

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