Dr. Barata, uma rua, uma vida

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 18/06/2022

Dr. Barata, nome que o natalense não esquece, por se referir a uma rua do bairro da Ribeira em Natal, uma das mais importantes do meado do século passado, onde funcionava boa parte do comércio da Capital, principalmente as lojas mais sofisticadas.

Trata-se de Cipriano José Barata de Almeida, nascido em Salvador, em 1762. Médico-cirurgião, com formação em Portugal, onde ensinou medicina na Universidade de Coimbra.

Não era potiguar, mas no final da vida morou em Natal. Na cidade chegou, em 1837, com sua mulher e seus 4 filhos. Exerceu medicina, com consultório estabelecido na Cidade Alta e na Ribeira, assim como lecionou francês no Atheneu. Aqui, faleceu, em 1838, aos 75 anos, tendo prestado relevantes serviços e colaborado com a medicina local, precária naquele tempo.

Dr. Barata, antes, porém, de morar aqui, com uma vida tranquila e pacata, destacou-se, no cenário nacional, como um dos mais ativos combatentes em favor da Independência do Brasil e da Proclamação da República.

Um jornalista-filósofo revolucionário. Com ideias avançadas, sempre as propagou no Brasil e no exterior, e fez a diferença. Ninguém o calou. Da forca, escapou várias vezes, mas dela nunca temeu.

Participou da Conjuração Baiana, movimento ocorrido em Salvador, em 1798, que pregava “o fim do absolutismo, a implantação da República e a abertura dos portos brasileiros, motivado pela opressão colonial, pela influência ideológica do iluminismo, pela independência dos Estados Unidos e a maçonaria”.

Mas, não parou por aí.

A Revolução Pernambucana foi outro movimento que atuou, ainda, sob a mesma motivação, que eclodiu em 1817, ao lado de grandes figuras nordestinas, como Frei Caneca e Padre Miguelinho. Este último, natalense (1768) que morreu pela causa (1817). Esse movimento de “caráter separatista e republicano manifestou a insatisfação local com o controle de Portugal sobre a região e com as desigualdades sociais existentes”.

Foi eleito Deputado às Cortes Gerais de Lisboa pela província baiana, em 1821. “Fez ali discursos rubros, convulsionando o auditório” (Câmara Cascudo). Representou o Brasil em Portugal, com patriotismo exacerbado e ideias republicanas, em defesa da pátria. Com isso, feriu os interesses dos poderosos da metrópole e da colônia.

Também, participou, com Frei Caneca (1779/1825), da Confederação do Equador. Revolta que aconteceu em Pernambuco no ano de 1824. “Suas causas foram a crise socioeconômica na região e o autoritarismo do imperador Dom Pedro I ao impor os termos da Constituição de 1824.”

Nesse movimento, o jornal “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco”, criado por Cipriano Barata, foi uma das suas armas, na luta pelas classes mais baixas e na difusão das suas ideias republicanas.

Não demorou e foi preso, de 1825 a 1829, por ordem de José Bonifácio, Estadista e Patriarca da Independência. Ainda assim não se dobrou ao sistema.

Lembra Câmara Cascudo que uma produção sua correu o mundo, repetida e glosada. Fizera a “oitava” quando prisioneiro na fortaleza de Santa Cruz:

“De soberbos rodeado,

Onde bramem mil ondas furiosas

Nos ares nunca gemo soçobrado

Nem me assustam as parcas pressurosa.

Inda mesmo de pulso arrochados,

Desafio desgraças sanguinosas,

Mordo os ferros, altivo ranjo os dentes,

Desafio o tirano mais potente ! “

Esse brilhante nordestino, um herói mesmo, mereceu a homenagem de Natal de ter colocado em uma de suas ruas o seu nome: Dr. Barata, pelo que significou, sobretudo, para o país e o seu movimento republicano. O natalense só precisava conhecê-lo mais. Revitalizar a Ribeira é preservar a história.

Voltar