Didi Câmara: poetisa além do seu tempo
Data: 09/10/2021
Didi Câmara é de Natal. Foi aqui que nasceu e estudou. Trata-se de Julita Câmara Cardoso, casada com Fernando Cardoso.
Antes, porém, de enveredar pela poesia, foi dramaturga e atriz. Integrou e fundou grupos amadores de teatro em Natal. Escreveu e encenou duas peças no Teatro Carlos Gomes (Atual Teatro Alberto Maranhão): “Os Filhos do Mar” e Divino Mestre”. Juntamente com seu marido, também ator e prestidigitador, fizeram espetáculos de mágica, usavam os pseudônimos de Aladim e Salambô (Laélio Ferreira de Melo).
Didi Câmara era, verdadeiramente, uma artista. Logo cedo despertou para poesia. Nessa arte, destacou-se. Em jornais e revistas, publicou inúmeros poemas.
Dela, disse o poeta recifense Rodovalho Neves, no seu livro, “Nordestinos do meu tempo”: “Lírica, nasceu eleita das musas, não desce ao lugar comum, à poeira da planície: sobe alto, revoeja, estuante de seiva, mostrando, na curva das estrelas, as pepitas de ouro de sua imaginação.” (Antônio Miranda).
Sua poesia é cheia de “ritmos selvagens” e ainda encanta o leitor. Eis um trecho de “Catedral da Floresta”:
Eu amo a solidão das florestas bravias,
Tristes e desoladas
No monótono outono…
A estranha catedral da natureza,
De bizarros capitéis e colunas esguias.
As clareiras são cúpulas majestáticas,
Vestidas de verde fosco
E ouro de folhas mortas…
Didi Câmara, segundo Edgar Barbosa, “se nos apresenta sob uma sedutora forma de originalidade. A sua poesia é nova, exuberante e imaginosa”. É, de fato, uma poetisa, “e em outro ambiente mais largo, onde a expressão intelectual pudesse ser melhor compreendida, o seu nome já teria atravessado fronteira” (A Poetisa – publicada em 14.08.1938).
Outro exemplo de sua poesia, pode ser demonstrada em parte do poema “Oferta”:
“Alma, leva minhalma,
Corpo, conduz meu corpo.
Boca, esmaga meus lábios,
Até fazê-los sangrar.
Mão, aperta a minha mão,
Olhos, magnetizai meus olhos
Até fazê-los cegar…
Espírito, domina-me,
Como o rio domina a mata,
Invadindo-a, encharcando-a…”
Othoniel Menezes, uma voz autorizada sobre poesia, em um texto seu, prelecionou: “Didi Câmara Cardoso que, uma vez publicado o seu primeiro livro, será proclamada digna de diademar a fronte com a mesma auréola que resplende sobre a de Gilka Mechado e de Cecília Meirelles” (Othoniel Menezes – obra resumida, p. 800).
Didi Câmara publicou quatro livros de poesias: “Chamas”, “Canaan”, “Infinito” e “Vozes” , e um de prosa: “Contos de amor”.
Sobre o seu livro “Chamas”, falou o poeta paraibano Antônio Freire: “Flor de fogo, perfume e calor! Perfume de pensamento em lampejos de perfeição.” (Antônio Miranda).
Hoje, Didi Câmara não é mais lembrada. Mas, pelo que representou sua poesia para o Brasil e para cultura nordestina, não podemos deixar o seu nome ser esquecido e o Rio Grande do Norte agradece.
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