Berilo Wanderley: um jornalista potiguar inesquecível

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data 08/06/2024

Talvez muitos não tenham conhecido Berilo Wanderley, por ter partido, em 1979, ainda jovem, aos 45 anos. Mas, com certeza, dele já ouviram falar.

Os formados em jornalismo, principalmente, sabem quem foi Berilo Wanderley, pois o Centro Acadêmico de Comunicação da UFRN leva o seu nome. Mesmo aqueles menos familiarizados com a história local, de alguma forma, já se depararam com Berilo, já que seu nome batiza, em Natal, uma rua em Lagoa Nova, uma Escola Estadual em Neópolis e uma Escola Municipal nas Quintas.

Apesar de ter falecido jovem, Berilo Wanderley marcou positivamente a comunidade natalense.

Francisco Berilo Pinheiro Wanderley (1934-1979) formou-se na primeira turma da Faculdade de Direito de Natal e fez pós-graduação em Madrid. Foi promotor de justiça, professor universitário, jornalista, escritor e crítico literário e de cinema.

No direito, teve uma passagem pela Promotoria de Justiça. Mas, logo se desencantou, a função de acusar alguém era, para ele, árdua demais, “incompatível com o seu temperamento” (João Batista Machado). “Era poeta demais para pedir a condenação de alguém” (Nei Leandro de Castro).

Berilo não temia o risco, o imponderável, principalmente, quando se tratava de buscar algo que achava que valia a pena. Em Clarice Lispector, encontrou a definição da sua jornada, ao citá-la, em uma entrevista: “terei que correr o sagrado risco do acaso”, e um dia, “substituirei o destino pela probabilidade” (Ícone Fashion – FJA).

Deixou a carreira jurídica de lado e foi em busca do que gostava. Foi no magistério/jornalismo que se encontrou e exerceu o seu ofício. A sua missão, realmente, era escrever e informar. O jornal impresso foi seu veículo de comunicação. Trabalhou na “A República”, “Diário de Natal” e na “Tribuna do Norte”.

Berilo Wanderley fazia quase de tudo dentro de um jornal: copydesk, chefe de reportagem, redator, editor, cronista e crítico de cinema, desempenhando essas funções com competência. Excelente titulista, capaz de fazer vários títulos, com rapidez incrível (João Batista Machado).

Na Tribuna do Norte, se destacou na qualidade de cronista, “sabia esgrimar a arte da palavra, como fenômeno estético, preocupado não somente na empatia do leitor, mas, também, em lhe oferecer o registro dos fatos reais”. “Foi um satírico incansável de tipos e costumes” (Woden Madruga).

Isso tudo pude perceber na leitura das suas crônicas, não na época da publicação, que talvez não tivesse ainda nascido, mas, agora, registradas em seu livro: “O Menino e Seu Pai Caçador”, constatando a qualidade da linguagem utilizada. Sua obra é marcada pela capacidade de envolver o leitor e transportá-lo para aqueles universos, vividos ou imaginados pelo autor.

“A crônica leve, descontraída, o estilo simples, enxuto, a ironia fina, a farpa bem colocada, estava no gosto do leitor. Mexia com os assuntos do cotidiano, descobrindo tipos que ele encontrava pelos becos e bares da Cidade, contando histórias, registrando acontecimentos, ocorrências literárias da província” (Woden Madruga).

As crônicas de Berilo Wanderley são capazes de dar vida a personagens simples, tornando-os relevantes e importantes dentro da narrativa, o que retrata, pelo que parece, a sua humanidade e solidariedade com seu semelhante. É uma característica admirável de sua escrita.

Berilo Wanderley pertenceu a uma geração de grandes valores, grandes figuras, como Newton Navarro e Luís Carlos Guimarães, mortos antes do tempo que mereciam para escrever, sonhar e amar (Nei Leandro de Castro).

Na verdade, Berilo era um verdadeiro mestre da linguagem, empregando-a de forma precisa e elegante em suas crônicas. Cada palavra parece ter sido cuidadosamente selecionada, carregada de significado e emoção, para transmitir com maestria seu pensamento.

Partindo de um simples fato ou acontecimento, Berilo era capaz de criar textos belos e cativantes, utilizando apenas algumas poucas linhas. Esse poder de concisão impressiona e é admirável, revelando sua habilidade única.

Hoje, conhecendo um pouco da história de Berilo Wanderley e, principalmente, lendo seus livros: “O Menino e Seu Pai Caçador”, “Cine Lembrança”, “Telhado do Sonho”, “Revista da Cidade”, tenho a saudade de quem não convivi, sequer conheci.

Os livros podem nos conectar com pessoas, que nunca se tem a oportunidade de conhecê-las pessoalmente; despertar empatia; nos transportar para outros mundos, tempos e experiências.

Essa, talvez, seja uma das magias do livro.

Cada página que leio, cada história que absorvo, faz com que eu sinta como se estivesse conversando com a pessoa, compartilhando ideias, pensamentos e experiências.

Depois de ter lido os livros de Berilo Wanderley bate o desejo de ler mais as suas crônicas, outras crônicas, o que não é mais possível, pois ele partiu, partiu para nunca mais escrever. Aí vem o sentimento de saudade, decorrente de admiração, respeito e gratidão por tudo que essa pessoa desconhecida me proporcionou através da leitura, levando-me para tempos idos e não vividos.

“Esse tipo de pessoa, quando se encanta, deixa atrás de si um rastro tão luminoso de atos, uma senda tão vigorosa de passos, que por isso mesmo torna-se imortal”.

Fontes:

Woden Madruga (Prefácio do Livro: O menino e seu pai caçador)

Ney Leandro de Castro (Tribuna de Norte, 18/11/2011)

Brechando.com

Fundação José Augusto – Figuras de Destaque

João Batista Machado (Cine Lembrança)

Voltar