As ruínas de Extremoz/RN: memória viva de uma história

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 26/11/2022

No século XVII, ainda quando era a Aldeia Guajiru, povoavam o local os índios: Tupis e Paiacus às margens da lagoa, que levava esse mesmo nome (hoje Lagoa de Extremoz).

Para catequizar os índios e colonizar a região, os portugueses enviaram ao local os Jesuítas (1603), concedendo-lhes terras (1607), através do capitão-mor do Rio Grande do Norte, Jerônimo de Albuquerque, sendo os primeiros missionários os padres Gaspar de Samperes, Francisco de Lemos, Francisco Pinto e Luiz da Figueira.

Essa missão se tornou mais efetiva, em 1641. Ali, os Jesuítas construíram a sua moradia, denominada aqui de convento, e uma igreja no estilo colonial, em 1755, uma das mais bonitas da época, segundo Câmara Cascudo. Passou o lugar a ser chamado de São Miguel do Guajiru.

A Igreja foi feita em três seções: nave, capela-mor e sacristia. Depois foi construída a residência, que o povo chama de convento, assobradada de duas portas acolhedoras, segura nas seteiras vigilantes para a lagoa (Irmã A. Maria Dionice da Silva).

Tempos depois, em 1759, os jesuítas foram expulsos do local pela Coroa Portuguesa, incentivada pelo Marquês de Pombal, surgindo aí uma vila, com pouco mais de mil habitantes, chamada de Vila Nova de Estremoz, em homenagem a uma cidade do Distrito de Évora em Portugal, tornando-se o Município de Extremoz, em 1963, com a emancipação de Ceará-Mirim, que havia dela se integrado quando ainda era chamada do Povoado Boca da Mata.

A Vila Nova de Estremoz foi a primeira vila do Rio Grande do Norte, assim reconhecida (Câmara Cascudo).

A igreja de São Miguel Arcanjo, uma das primeiras a ser construída no Rio Grande do Norte, hoje se encontra em ruínas. A ela não foi dada a importância devida, relegando parte da história ao esquecimento.

A destruição, na verdade, se deu pelo descaso dos governantes. No início do século passado ainda se tinha uma construção, preservando a arquitetura do prédio. O abandono do local foi certamente a causa principal do seu fim. Mas, acelerou esse processo a lenda de que naquele lugar havia ouro enterrado. Aí a escavação passou a ocorrer de forma desenfreada pelos moradores locais e o prédio foi à ruína.

Em se tratando de História, isso é inconcebível.

Em passado recente, foi construída a Igreja Matriz de Extremoz (1940), em outro local e em substituição à antiga, aproveitando-se seus janelões nas atuais portas. Mais adiante, o sacerdote belga Jacques Theisen (Padre Tiago), através de um belíssimo trabalho de evangelização, reacendeu a Paróquia de São Miguel Arcanjo, reanimando a fé dos paroquianos.

A religiosidade foi restaurada, a história não.

A lembrança viva daquela época é a pia batismal. Incontáveis índios foram por ela batizados, inclusive o mais ilustre, Felipe Camarão. Outra lembrança, também resgatada daquele momento, é a imagem de São Miguel Arcanjo.

Ainda podem ser citadas algumas imagens encontradas na Lagoa de Extremoz: Santo Inácio e São Francisco Xavier, chamados de Santos Aparecidos.

Hoje, tudo isso se encontra no novo templo religioso. A sua preservação deve ser prioridade e ser tratada com seriedade.

Ruínas da Igreja e do convento de Extremoz, lembrança palpitante dos dois monumentos históricos, que ainda resistem à oxidação do tempo e à indiferença dos homens (Irmã A. Maria Dionice da Silva).

Fontes:

– Guajuru, registro da Indiferença, Juarez Viana da Silva.

– História de Estremoz, de Ir. Maria Dionice da Silva.

– Tribuna de Notícias, 26/9/2017. – Imagens antigas: Fatos e Fotos de Natal Antiga e Brechando.

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