Aristófanes Fernandes: um sertanejo engenhoso e arrojado

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 13/11/2021

Aristófanes Fernandes e Silva, sertanejo de Santana do Matos, nasceu em 1911. Filho de Jenuína e José Fernandes e Silva, comerciantes de tecidos na cidade e pequenos proprietários rurais na região. Criado no sertão potiguar em uma família de 11 filhos, logo cedo percebeu que podia ir além, se inovasse e fosse único na sua atividade. E foi.

Ainda jovem, sem dinheiro no bolso, mas com tino empreendedor, passou a comercializar tecido no interior, vendendo em domicílio. Um verdadeiro mascate. Depois, em 1935, mudou-se para Natal, abrindo uma pequena e promissora loja. Aos 24 anos casou-se com Maria do Céu Pereira.

A sua escola foi a de tantos nordestinos: a da vida. Mas, a sua inteligência era diferenciada e a vontade de vencer era incontestável, o que fazia dele uma pessoa rara.

Com o dinheiro que ganhava no comércio comprava terras em Santana do Matos e nas redondezas. Timbaúba era a melhor e a mais famosa das fazendas. Aí não demorou e passou a investir na terra, sua vocação e destino.

“Tomar o rumo certo é mais importante que a rapidez das mudanças”.

No final da década de 30, com linhas de créditos à disposição do agricultor, passou a plantar algodão. A Agricultura deu certo e o triunfo veio. Porém, não ficou só nisso. Engenhoso, montou uma fábrica para fazer o seu beneficiamento. O produto final (fibra, ração e óleo) era vendido agregando maior valor. A Usina Santa Terezinha foi um sucesso empresarial.

Para Aristófanes, tocar a vida e administrar um negócio era crer em si mesmo e se desafiar a cada momento.

Com a vinda dos americanos para Natal na Segunda Guerra Mundial, início dos anos 40, percebendo o interesse local pela borracha, Aristófanes descobre que da maniçoba (planta abundante do seu sertão) poderia ser extraído o látex. Passa a fabricar borracha em sua Usina, vendendo aos americanos.

Arrojado e perspicaz, enxergou a oportunidade com os americanos em Natal, que mostravam na ocasião muito interesse na scheelita, minério do qual é extraído o tungstênio. Pesquisou a terra certa e a adquiriu. Fundou ali a Mina Cafuca. Uma das melhores do Estado, com produção surpreendente, em qualidade e quantidade, com mais de 700 operários, como disse o técnico americano De Moore, em reportagem ao Correio da Manhã, em 26/10/1943.

O maquinário para produção do minério foi outra façanha: fabricado aqui no Estado através de mecânico da região, a partir de simples desenhos e rabiscos feitos pelos engenheiros americanos.

“Ética e conhecimento são metas a alcançar tão urgentes quanto o lucro”.

Da terra ainda poderia explorar a pecuária. E partiu Aristófanes, nos anos 50, em busca disso, e fez a diferença. Sem amadorismo, entendeu que deveria melhorar geneticamente o seu rebanho bovino. Então, trouxe para o Rio Grande do Norte a raça pardo suíço, importando dez matrizes e dois touros (Badu e Shandu) diretamente da Suíça. Tudo puro de origem – PO. A sua descendência fez história e se espalhou pelo Estado. O resultado foi inevitável.

Ainda foi adiante. Visando melhorar a bacia leiteira do Estado, Aristófanes importou também gado holandês, diretamente da Holanda. O seu gado ganhou fama e ficou cobiçado.

À época foi uma revolução. Todo esse gado vinha de navio da Europa direto para Natal, desembarcando no cais do porto da Tavares de Lyra. Eventos festivos que a cidade testemunhou e aplaudiu, ao ver o desfile dessas raridades pelas suas ruas. O destino era a Fazenda Timbaúba, em Santana do Matos.

Aristófanes Fernandes trouxe, também, de regiões mais prósperas do Brasil (São Paulo e Minas Gerais) gado da raça zebuína: Nelore, Gir e Guzerá, vindo de caminhão boiadeiro, desbravando estradas.

Inovador, na sua fazenda Timbaúba, fez várias feiras de gado e a venda era um sucesso, com lucratividade garantida. Para atrair compradores, realizava festas, vaquejadas e tudo o mais. A sua feira ficou famosa, e contava sempre com a presença de figuras ilustres, como, por exemplo, o líder político nacional Tenório Cavalcanti e o governador Sylvio Pedroza. Este apaixonado por vaquejada, tendo inclusive participado de uma naquela festa, puxando boi, e consagrou-se campeão.

Nesse seguimento, a sua homenagem veio com o nome do Parque de Exposições Aristófanes Fernandes. Parque idealizado pelo governador Sylvio Pedroza, quando implantou ali os primeiros galpões em alvenaria. A primeira exposição de animais e máquinas agrícolas ocorreu, em 1956, no Governo de Dinarte Mariz, que incrementou o local com outras benfeitorias na estrutura. Atualmente, é referência nacional em eventos agropecuários.

Aristófanes Fernandes, homem de múltiplas atividades. No Rio Grande do Norte, foi Prefeito de Santana do Matos, Deputado Estadual e Deputado Federal, e teve participação, decisiva e vitoriosa, em três campanhas de Governador: Dinarte Mariz (1955), Aluízio Alves (1960) e Monsenhor Walfredo Gurgel (1965). A política era a sua paixão.

Um visionário rural que fez da terra árida do sertão um negócio rentável. Pioneiro do agronegócio potiguar, fez história no Estado e deixou exemplo, e, por isso, merece ser lembrado. Comandava os negócios do seu imenso escritório da Avenida Tavares de Lyra. O Rio de Janeiro era visita obrigatória. Naqueles tempos tudo acontecia ali e por ele foi bem explorado.

Aristófanes Fernandes faleceu, em 8/12/1965, no Rio de Janeiro, aos 54 anos, com problemas gástricos, em plena atividade empresarial e política.

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