A praia: um espaço democrático onde todos são iguais

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 25/01/2025

No recesso do final de 2024, busquei refúgio na Praia de Pirangi para aproveitar o início do verão. O sol, nessa estação, brilha de forma única, carregando uma energia revigorante, que faz bem ao corpo e à mente.

Em algumas ocasiões, decidi visitar a praia de Ponta Negra, apenas para contemplar.

Inegavelmente, o mar é uma das mais belas dádivas que a praia oferece. Seja revolto, seja calmo, sua beleza permanece inalterada. No entanto, ao observar a praia de outro ângulo, algo mais me chamou a atenção, sem ofuscar seu encanto natural: o banhista e o seu comportamento.

Parei. Parei por um bom tempo, e fiquei a observar a beira-mar, o vai-e-vem das pessoas. Era uma multidão. Pessoas passeavam, tomavam sol, jogavam bola, mergulhavam no mar… Divertiam-se, enfim. A preocupação naquele momento parecia ausente, distante talvez.

Além da alegria contagiante, percebi uma certa igualdade entre elas. Ninguém se destacava pela roupa; bastava um biquíni ou um calção de banho para estar pronto a frequentar a praia. As peças eram tão simples e discretas que a marca não importava. A beleza estava na pessoa!

A praia é, inegavelmente, um espaço urbano de interação social e democrático por excelência.

Enquanto observava a belíssima Ponta Negra, percebi algo peculiar: tanto os mais quanto os menos abastados desfrutavam do ambiente da mesma forma, sem qualquer distinção. Ninguém se preocupava com outrem ou com o comportamento alheio. O importante era aproveitar o espaço e a ocasião.

A beleza da praia desmistifica os estereótipos sociais!

Na praia, todos – sem exceção – usufruem do lugar livremente, sem quaisquer custos, independentemente de condição social. Ali, o dinheiro não interfere em nada. Afinal, a beira-mar não se vende nem se compra; apenas se vive e se desfruta. Essa igualdade natural revela a verdadeira isonomia.

Naquele cenário, o sol realmente nasce para todos e brilha com a mesma intensidade, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

A praia é um ambiente deslumbrante, divino.

Em um desses dias, decidi permanecer na Praia de Ponta Negra até mais tarde. Com o sol perdendo sua intensidade e o vento se acalmando, notei uma pessoa em cadeira de rodas no calçadão de Ponta Negra. Ela contemplava o mar, com o olhar fixo nas ondas e a cabeça balançando suavemente, como se acompanhasse o ritmo do quebrar das águas.

Aproximei-me, cumprimentei-a e perguntei:

— O que o faz ficar aqui tanto tempo contemplando o mar?

Ela respondeu, com um sorriso:

— Apesar de não andar há tempos, o balanço das ondas me faz sentir movimento.

E continuou:

— A praia é de todos. Ninguém aqui está preocupado com minha condição física, nem sente pena de mim. Cada um aproveita do seu jeito, porque o que importa é o mar, a principal atração. Mas, se eu precisar de algo, qualquer um me auxilia, imediatamente e com alegria.

Sem que eu precisasse perguntar mais nada, ela acrescentou:

— A praia é um lugar único. Aqui não há discussões, olhares discriminatórios ou malquerença. Nada. A liberdade impera e a igualdade se destaca.

Naquele instante, compreendi que a praia é o mais autêntico símbolo da democracia, onde predominam a liberdade, a igualdade e a fraternidade — os ideais que inspiraram a Revolução Francesa de 1789 e foram imortalizados na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, pilares essenciais para a humanidade.

Se a praia fosse um sistema de governo e fosse adotado no Brasil, sem dúvida, viveríamos em um país verdadeiramente revigorado e singular.

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