A Ponta do Flamengo (RN): uma beleza estonteante

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 25/11/2024

No fim de tarde qualquer, fui à Ponta do Flamengo. Do alto daquela elevação rochosa, o meu olhar se perdeu na imensidão do mar que adormecia lentamente.

Nada me distraiu, nem o silêncio ensurdecedor; nem o assobio da brisa fria; tudo era reflexivo, contemplativo.

O mar verde-azulado, com suas ondas repetidas, repousava na praia com uma calma sonâmbula, numa cadência quase hipnótica.

Era a Praia do Flamengo que se apresentava de mansinho, bela e fagueira!

Continuei a admirar as ondas que se lançavam de forma quase indiferente na areia, como se cumprissem um ritual eterno, indiferente ao passar dos séculos.

“A lembrança retorna submissa, transida nas réstias do chão. Os objetos não mudaram de forma, apenas o espaço acolhido é o de antigamente” (Sanderson Negreiros – A hora da lua da tarde).

Essa praia, formada por uma enseada de águas calmas, é abraçada por falésias cobertas de vegetação rasteira, de onde se destacam alguns coqueiros, como se fossem sentinelas solitárias.

Flamengo refere-se especialmente aos habitantes dos Países Baixos (Holanda),

originalmente à Região da Flandres, atual Bélgica. Entre nós, tornou-se sinônimo de holandês.

A Praia do Flamengo carrega o peso do passado, evocando a presença holandesa no Rio Grande do Norte no século XVII.

Essa praia não recebeu esse nome por acaso.

É possível que tenha servido como ponto de observação para os flamengos durante a expedição de reconhecimento da área em 1631, que precedeu a invasão dos holandeses em 1633, quando desembarcaram em Ponta Negra, tomando o Forte dos Reis Magos e a Cidade de Natal, rebatizados, respectivamente, de

Kastell Keulen e de Nova Amsterdã.

Ou, mais tarde, a praia pode ter abrigado uma guarnição avançada, como ocorreu na Ilha do Flamengo, localizada próxima à Lagoa de Guaraíras, onde foi construída uma fortificação holandesa, em Arez/Tibau do Sul, consolidando seu domínio militar na Região.

Na Praia do Flamengo a beleza e a história se conectam para criar um ambiente ao mesmo tempo estonteante e reflexivo, como se o mar e o céu conspirassem para nos fazer viajar ao passado, enquanto o futuro nos espera nas ondas que quebram incansáveis.

Após essa viagem imaginária, as nuvens baixas e o sol em seu adeus se juntam para criar um céu em tons de azul, amarelo e violeta, tecendo um entardecer emoldurado.

Esse entardecer deixa uma sensação de continuidade, como se o tempo estivesse em suspensão, e nós, breves passageiros, apenas tocássemos de leve a eternidade, cientes de que beleza e história, assim como o mar e o céu, sempre encontram formas de se reencontrar.

Volto ao presente, imerso em uma esperança silenciosa, como se cada detalhe da paisagem sussurrasse promessas de renascimento.

A noite se aproximou, tímida e quase sonolenta, enquanto me preparava para retornar ao aconchego de meu refúgio de verão.

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