A cidade: realidades diferentes

Data: 15/02/2025
Neste começo de ano, cruzei o morro de Mãe Luíza várias vezes em direção ao litoral sul, buscando encurtar o caminho e escapar do trânsito no fim da tarde das sextas-feiras.
Nessas ocasiões, tive a oportunidade de observar melhor essa região de Natal, não apenas pela beleza da vista privilegiada do Oceano Atlântico, que encanta até os menos sensíveis, mas também sob a perspectiva do povo.
O bairro de Mãe Luíza, apesar de episódios pontuais de criminalidade, é habitado por gente de bem, simples e trabalhadora, que acorda cedo para lutar pela vida e garantir o sustento diário.
Percebi que a realidade social e os costumes dali diferem de outras partes de Natal, assemelhando-se mais às cidades pequenas do interior do Rio Grande do Norte.
As pessoas são mais descontraídas, andam de bermuda, camisa e sandálias – às vezes até sem camisa – como se a roupa não fosse uma indumentária de ostentação, mas apenas uma necessidade cotidiana.
A simplicidade é a regra.
Conversas acontecem nas calçadas, sem pressa, como se o tempo não fosse uma preocupação, mas apenas parte do dia a dia. O comércio também está ali à beira da via, inclusive com mesas de bares espalhadas. O lazer simplesmente ocorre em qualquer cantinho e oportunidade.
A informalidade predomina, ou melhor, a regra é não ter regra. Pela avenida principal, meninos circulam de bicicleta, pedestres atravessam sem grande preocupação com os carros, e são os motoristas que se mantêm atentos a essas situações. Carros param de qualquer jeito para embarques e desembarques de passageiros, sem que isso pareça um problema.
Dentro dessa dinâmica própria, todos se entendem e não demonstram preocupação. Nem buzina se escuta; não há recriminação de comportamento. O estresse passa longe, e a alegria de viver é o fator preponderante.
Essa diferença entre bairros de uma mesma cidade, mesmo em uma capital de porte médio como Natal, é surpreendente. Comparando Mãe Luíza com Petrópolis – seu bairro vizinho, considerado um dos mais sofisticados, repleto de grandes edifícios residenciais, excelentes restaurantes, muitas clínicas e escritórios – fica evidente a desigualdade social e, sobretudo, comportamental.
Essa distância social tão profunda não deveria existir, mas, já que existe, deveria ser amenizada. A convivência entre classes distintas pode trazer incentivos, oportunidades e mais educação para todos.
A segregação não é saudável; estimula a discriminação e retarda políticas públicas de desenvolvimento para os bairros de menor expressividade econômica.
Desmistificar a alegação de alta criminalidade e periculosidade em Mãe Luíza — fenômenos presentes em toda a cidade, e não apenas ali — pode ser o primeiro passo para promover um convívio mais harmonioso entre os bairros, reduzindo as barreiras que separam vizinhos tão próximos.
Imagem:
– Tela do artista plástico Pedro Grilo
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