A casa da avó: saudade eterna
Data: 09/11/2024
A casa da avó é um refúgio de aconchego e calor humano, um lugar mágico onde os netos se sentem livres, sem cobranças ou restrições. Ali, tudo é possível – ou quase tudo. É um lar onde a acolhida é garantida com amor e compreensão incondicionais.
Cada canto e recanto dessa casa guardam memórias, entrelaçadas com risos e abraços. Agora, mesmo a ausência que aperta o peito e faz doer não é capaz de apagar as histórias e lembranças que se eternizaram.
Simplesmente saudades: ausência que permanece presente!
A figura que me faz lembrar dessa avó especial é dona Lourdinha Menezes, casada com Dr. João Cabral, com quem teve sete filhos que, por sua vez, lhe deram 20 netos.
A casa de d. Lourdinha e de Dr. João ficava na Av. Deodoro da Fonseca, 320. Um verdadeiro lar que acolhia seus netos com carinho desmedido, criando um ambiente em que as boas recordações floresciam e se perpetuavam.
Dona Lourdinha nunca elevava a voz ou mesmo chamava a atenção dos seus netos, sequer fazia qualquer pedido ou cobrança. Seu jeito sereno e acolhedor fazia tudo parecer mais especial. O bolo de ovos era uma das suas marcas registradas, presença constante nas tardes que se estendiam preguiçosamente após a escola.
Ana Amélia, uma de suas netas, relembra essas memórias, com emoção, disfarçando as lágrimas que teimam em aparecer no canto dos olhos.
Os netos entravam e saíam da casa em meio a gritos e risos, formando uma alegre algazarra. Na temporada dos jambos, corriam para o canteiro da rua, onde ficavam os jambeiros e se fartavam com as frutas frescas. A calçada era sinônimo de liberdade e diversão: descalços, pedalavam, patinavam e corriam, sempre respeitando a regra da avó – não ultrapassar a casa de seu Nezinho! – para não sair de suas vistas.
Ela se alegrava em ver a casa cheia, com conversas fluindo livremente. Enquanto os netos brincavam e os pais conversavam descontraídos na calçada, o cheiro apetitoso saía da cozinha, chamando todos para dentro. O lanche era um momento especial que reunia a família, e ninguém resistia.
Hoje, parece que nada daquilo existe mais: nem os pés de jambo, nem as brincadeiras na rua, nem as conversas na calçada, nem o lanche da tarde na casa da avó…
Além de atender aos desejos de seus netos, dona Lourdinha não suportava ver alguém passando necessidade. Se alguém com fome batesse à sua porta, sua solidariedade falava mais alto. Sem hesitar, interrompia o que estivesse fazendo – mesmo que fosse uma refeição – para oferecer ajuda, apesar dos protestos do marido:
– Lourdinha, não precisa fazer a doação agora. Pelo menos termine de comer!
Com sua velha máquina de costura, dona Lourdinha vestiu seus filhos com esmero: “as meninas, com lindos vestidos com bordados, bicos e rendas, e os meninos, com coletes e gravatinhas”, e, mais tarde, passou a presentear os netos, com amor e dedicação.
Nem eu fui exceção à sua bondade. No início do namoro com sua neta, Ana Amélia, fui surpreendido com um presente: uma bela toalha bordada com o desenho de uma pessoa segurando uma raquete, simplesmente porque ela soube que eu jogava tênis e viu a sua utilidade.
Em um desses dias nublados, dona Lourdinha partiu, deixando um vazio imenso. Mas, sua memória permanece viva, ecoando em cada relato, lembrança e gesto de doçura que continua a nos guiar.
Essa avó especial construiu um legado de amor e generosidade que perdurará para sempre em nossos corações. Assim, ao recordar sua presença, é impossível não sentir a saudade eterna de quem sempre fez da vida um banquete de amor e compreensão.