Rodolfo Helinski: o homem que desafiou a guerra e fez do Brasil sua terra

Data: 18/01/2025
No século passado, Natal abriu as portas para vários estrangeiros: poloneses, ucranianos, libaneses, italianos, judeus, que chegavam com sonhos e cicatrizes, em busca de refúgio, de um recomeço.
Entre esses homens e mulheres, há uma história que se destaca, marcada pela coragem e dedicação. É a de Rodolfo Helinski – um polonês, filho de Otto Helinski e Anna Helinska Stenzel, agricultores apaixonados pela terra, de quem herdou esse mesmo amor – que, ao desembarcar no Brasil, encontrou em Macaíba o solo fértil para sua nova vida.
Nascido em Grabionna, Polônia, em 15/1/1924, Rodolfo Helinski enfrentou as agruras da Segunda Guerra Mundial. Seu país foi invadido pela Alemanha em 1939, e ele foi forçado a servir no exército alemão. No entanto, com um espírito indomável e em desacordo com a política nazista de Adolf Hitler, Rodolfo desertou e juntou-se a um batalhão polonês aliado ao Exército Inglês na Itália, reafirmando sua coragem e determinação em lutar por seus ideais.
Ao fim da guerra, em maio de 1945, Rodolfo seguiu para Inglaterra. Alguns anos depois, em 1949, cruzou o oceano rumo ao Brasil, desembarcando em Natal/RN, uma terra desconhecida, respondendo ao chamado do tio, Padre Martinho Stenzel, que estava radicado na cidade como vigário da Igreja São Pedro.
Contudo, ao perceber que não tinha inclinação para a vida eclesiástica, comunicou ao tio que esse não seria o seu caminho. Durante as missas dominicais, ao ser apresentado a diferentes membros da comunidade, teve um encontro decisivo com o Sr. Nilo de Albuquerque Melo, Diretor da Escola Agrícola de Jundiaí, em Macaíba/RN. Naquele momento, seu futuro começou a tomar forma.
Ao chegar em Jundiaí, Rodolfo sentiu o solo estrangeiro como se fosse seu. Foi ali, entre a simplicidade do campo e o calor das novas amizades, que conheceu Maria Lêda Leite, filha de Euclides Ribeiro Leite e Antônia Viera Leite, família tradicional de Macaíba.
Esse encontro marcou um novo capítulo em sua vida. Com Lêda, construiu uma história de amor e cumplicidade, e juntos criaram seis filhos, frutos dessa união que cresceu sólida como a terra que cultivavam.
Pai amoroso e dedicado, Rodolfo educou os filhos ali mesmo, compartilhando com eles momentos de alegria. No açude local, ensinou-os a nadar com paciência e segurança, valendo-se de sua habilidade de nadador. Sempre atento, alertava sobre os perigos das águas turvas e traiçoeiras, cuidando para que cada mergulho fosse também um aprendizado sobre respeito e prudência.
Rodolfo, fluente em alemão e inglês, chegou ao Brasil sem falar português, mas sua dedicação em aprender a língua, adaptando-se aos costumes locais, fez dele uma figura amada e respeitada.
Na Escola Agrícola de Jundiaí, em Macaíba, encontrou mais que uma ocupação: encontrou uma missão. De trabalhador nas atividades de campo e mecanização agrícola, ele ascendeu ao cargo de instrutor do curso de tratorista e professor de inglês. Sua paixão pelo ensino e pelo campo tornou-se evidente.
Sua dedicação e competência não passaram despercebidas. Em 1972, foi nomeado diretor da Escola Agrícola de Jundiaí posição que ocupou até 1982. Durante sua gestão, deixou um legado de trabalho incansável, promovendo melhorias e consolidando a escola como um centro de excelência.
Essa dedicação e entrega às novas gerações foram apenas parte de sua herança. Rodolfo era um homem que respirava o campo, cujas raízes estavam firmemente plantadas na terra. Seus passos ecoavam entre as plantações e seu olhar carregava o cuidado e o respeito por cada pedaço de solo cultivado. Macaíba foi sua escolha, depois de aposentado, ali adquiriu uma propriedade onde desenvolveu a agricultura com empenho e paixão.
Rodolfo Helinski faleceu em 06 de dezembro de 1992, aos 68 anos.
Mas o destino, que o trouxe para o Brasil, reservou-lhe uma despedida poética e pungente. Rodolfo, que sempre amou nadar, como se cada mergulho fosse uma celebração à vida, teve sua trajetória interrompida de forma trágica nas águas do mar de Tabatinga, onde foi levado em um triste e ensolarado dia.
Naquele dia, Macaíba chorou a perda de um de seus mais queridos filhos. O Rio Jundiaí, que tantas vezes testemunhou suas lutas, sua dedicação incansável e seu talento de nadador, não mais veria suas braçadas largas e firmes. Rodolfo, que parecia ter uma conexão inquebrantável com as águas, fora finalmente acolhido por elas, para seu repouso eterno.
Hoje, seu nome está imortalizado na Biblioteca da Escola Agrícola de Jundiaí – um lugar de conhecimento e acolhimento, que reflete o sonho de progresso que ele tanto prezou.
Em outro local, que transforma destinos e serve como fonte de inspiração, seu nome também foi perpetuado: a Escola Municipal Rodolfo Helinski, uma instituição pública de Macaíba/RN, que oferece educação desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental.
Rodolfo Helinski, o polonês que fez de Macaíba sua terra e de seus campos o legado, vive na memória de cada um que percorre os corredores da Escola Agrícola de Jundiaí. Sua história é um tributo à perseverança, ao amor ao campo e à comunidade que escolheu como lar.
Fontes:
O livro: Escola Agrícola de Jundiaí: ontem, hoje e amanhã, de Rivaldo D’Oliveira
Portal de Notícias da UFRN
EAJ – Escola Agrícola de Jundiaí
Informações e fotos fornecidas pela família Helinski









