Alda Silveira Dias: beleza, inteligência e fé

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 12/11/2022

Alda nasceu em Macau/RN, em 19/3/1918. Desde tenra idade, de olhos fúlgidos e tez morena, chamava atenção pela sua beleza e pela sua avidez pela leitura.

Seu pai, Antônio Honório da Silveira, pessoa serena, cuja bondade não demorava a ser notada. Sem ambição e com raízes fincadas em Macau, ali viveu e trabalhou na Cia. Comércio e Navegação, empresa referência na cidade. Sua mãe, Julieta, com certa rigidez, comandava o lar. Católicos praticantes, educaram seus 5 filhos segundo os ensinamentos cristãos.

Seu tio paterno, de quem Alda tinha devoção e admiração, era Monsenhor Joaquim Honório da Silveira (14/1/1879 – 1/11/1966). Fonte de inspiração da família. Considerado pelos macauenses o “Santo de Macau”. Sacerdote, ordenado em 1902, foi Pároco da Igreja Matriz de Macau, onde foi ali sepultado. Foi Diretor do Colégio Diocesano Santo Antônio (atual Marista) e Reitor do Seminário São Pedro. Sua qualificação era evidente e admirada. Também passou pela importante Diocese de Niterói, acompanhando o Bispo José Pereira Alves.

Aquela menina, de infância alegre e tranquila, mas sedenta de conhecimento, desde muito cedo já despertava para a vida. Macau parecia ser pequena para ela. A sua coragem impressionava.

Alda, depois de iniciar seus estudos em Macau, no Grupo Escolar Duque de Caxias, foi estudar em Assú, interna, no Colégio das Freiras (Colégio Nossa Senhora das Vitórias). Posteriormente, ainda interna, estudou em Recife, no Colégio Eucarístico e, também, em João Pessoa, no Neves, comunidade religiosa das Filhas do Amor Divino. Resolvendo morar em Natal, optou em estudar na Escola de Comércio (Feminina), orientada pelo Prof. Ulisses de Góis (Podium, 25/12/1997).

Ainda, nesse período de vida, praticou esporte de alto rendimento. O escolhido foi o remo. Naquele tempo não era bem-vindo para mulher. Mas, isso não a fez desistir. No raiar do sol, Alda remava diariamente no Rio Potengi pelo Centro Náutico. Era remadora de iole a quatro. Disputou algumas competições, chegando, inclusive, a ser premiada. Nesse esporte feminino foi pioneira no Estado.

A moça se mostrava diferente; além do seu tempo.

Alda pertenceu à juventude integralista, um movimento político brasileiro ultranacionalista e tradicionalista católico, baseado na Doutrina Social da Igreja Católica, liderado nacionalmente pelo jornalista Plínio Salgado, e, no Estado, por Câmara Cascudo, Otto Guerra, e Ulisses de Góis. E exercia liderança entre os jovens. O que demonstra seu pioneirismo também na opção política.

Nessa mesma época, Alda foi Rainha dos Estudantes (1936), concurso promovido pelo Centro Estudantil Potiguar, pelo voto de uma comissão composta por Jessé Pinto Freire, Paulo Luz, Aluízio Alves, Orlando Gadelha Simas e Silvio Tavares (Podium, 25/12/1997); segundo ela, não por beleza [que a tinha de sobra], mas pelas excelentes notas escolares e liderança no movimento estudantil.

O seu sonho era diferente das meninas da sua época, o que a colocava na vanguarda.

Talvez tenha escolhido a Escola do Comércio, o que era inusitado para ocasião, por despertar interesse pelo comércio, visando sua independência e posição de destaque na sociedade.

Mas, a sua vida tomou outro rumo: o casamento. Alda Silveira (20 anos) casou com Epifânio Dias Fernandes (33 anos), empresário promissor, levando-a a abandonar os estudos e a eleger novos ideais. O matrimônio se deu, em 21/5/1938, na Igreja Matriz de Macau e dele advieram os seus 4 filhos.

Não por isso deixou de ser feliz. Segundo Alda: “a felicidade é do tamanho que a gente faz”.

O sentido da vida está na luta pela realização dos objetivos que consideramos importante alcançar. Se não der certo, não significa que fomos derrotados. Somente somos derrotados quando não lutamos (Ivan Maciel de Andrade).

Com a maternidade, Alda passou a ser dona de casa. Entretanto, sua personalidade continuou sendo forte: horror à hipocrisia e admiração à verdade. Não levava desaforo para casa. A reposta estava sempre na ponta da língua.

Também não perdeu hábito pela boa leitura, tendo na sua cabeceira, além da bíblia, o livro “Confissões” de Santo Agostinho, cuja filosofia de vida a inspirava. Cinema era seu hobby, o lazer preferido; o crochê, seu passatempo; palavras cruzadas, sua terapia.

A fé era sua força motriz e a iluminação divina o seu norte. Algumas revelações também a guiava. Com filosofia de vida própria fazia a diferença, com isso seus ensinamentos eram precisos e sua conversa agradável.

“Pela fé se conhece a verdade, meio que alcança o que a racionalidade não dá conta” (Santo Agostinho).

Alda Silveira morreu, em 10/8/2012, aos 94 anos, e deixou saudades.

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