José Jordão Arimatéia, referência no Rio Grande do Norte na arte em esculpir

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 01/10/2022

Jordão, de família simples, nasceu em Macau/RN, em 1949. Artista, cujo dom se revelou muito cedo. Sua preferência é talha em madeira e escultura em cimento. Na arte, sua escola foi a da vida, com inspiração própria.

Ele é uma das mais autênticas afirmações da arte de esculpir do Estado; naif, sim, mas, na essência, um erudito da forma e do conteúdo, numa dimensão que está além das nossas perplexidades (Dorian Gray – Artes Plásticas).

Com seu próprio estilo, tornou-se referência em Natal, quando esculpiu grandes obras: painéis em cimento, principalmente.

Um dos seus trabalhos mais significantes foi o do Edifício Riomar, em Cidade Alta, um painel de concreto armado, “representando o calor tropical”, considerado um dos maiores da América Latina.

Outra belíssima obra: “Os Meninos Músicos” está no pátio do IFRN, Campus da Cidade Alta, homenageando os instrumentistas e incentivando a música ao público infanto-juvenil.

Também, tem um painel representando uma “romaria conduzida por Luiz Gonzaga ao encontro de Frei Damião”, no posto de combustível Santo Expedito na Alexandrino de Alencar, interpretação bem nordestina: a fé e o forró, com uma pitada paradoxal.

Em madeira, entalhou painéis gigantes, dentre eles, podemos citar dois – em parceria com Manxa (reconhecido entalhador e escultor do RN – 1949/2012), de quem era admirador, como os que estão expostos no Palácio da Cultura, ao lado da escadaria monumental, que dá acesso ao primeiro andar, engrandecendo o ambiente. Nesse local, na entrada, tem duas esculturas, enaltecendo a mulher, que mostram o diferencial do artista.

A estátua do “Menino do Grude”, símbolo de Extremoz, é outra referência do artista. Quem andava nos anos 80 por ali rumo às praias do litoral norte (Muriú, principalmente), lembra daqueles meninos vendendo essa iguaria, feito com goma de mandioca e coco ralado, herança indígena potiguar.

O menino não se vê mais com tanta frequência, mas o momento está imortalizado na obra do artista.

Outra magnífica obra de Jordão é o conjunto de painéis que fica no Centro de Convenções de Natal, na Via Costeira em Ponta Negra. No salão de entrada, tem uma representação indígena, trabalho feito em cimento. Logo abaixo, antes do auditório, tem dois painéis: de um lado “um retrato do cangaceiro Lampião”, do outro “as salineiras de Macau”.

No lado externo do prédio, tem importante obra do artista: “uma enorme rendeira e um pescador carregando peixes e cajus”, na época da primeira construção, dando as boas vindas.

Em visita ao local, a decepção: a obra que já estava mal cuidada, agora, com a nova construção, está relegada ao esquecimento. Escondida na lateral do prédio, está prestes a desaparecer. A isso se confirmar, é de se lamentar.

As obras de arte públicas não são de quem governa e o seu destino não cabe ao governante. Uma vez adquiridas e instaladas pelo poder público à população pertencem, estabelecendo com ela referências: históricas e culturais.

Autodidata e de estilo figurativo, Jordão surpreende, com suas obras, os mais letrados dos artistas pela beleza e simplicidade dos temas.

A sua inventiva faz nascer mitos e faunos, formas arcaicas e criações informais, numa exuberância descritiva rara nos artistas de sua categoria (Dorian Gray).

Jordão usou, em suas obras, material que estava ao seu alcance, sem qualquer sofisticação; quem sabe, por isso, a sua grandeza: do simples ao belo. Não teve incentivo para aperfeiçoar sua arte, nem na vida, mormente quando se afastou do seu ofício por longo período, por motivo de saúde.

Um dos mais expressivos escultores do Estado superou as adversidades e faz arte, e impressiona (!).

Apoiar o artista é incentivar a arte. Isso deveria ser obrigação do Estado e uma opção para a sociedade organizada. As pessoas passam, as obras se eternizam.

Voltar