Gizinha, um livro atemporal e extraordinário, de Polycarpo Feitosa

Autor(a): Nélio Silveira Dias Júnior

Data: 04/01/2022

Polycarpo Feitosa é o pseudônimo de Antônio José de Melo e Souza, expoente da intelectualidade potiguar do século passado e ex-governador do Rio Grande do Norte (1907/1908 e 1920/1924).

Gizinha é um romance escrito por Polycarpo Feitosa, publicado em 1930. Mostra uma realidade vivida nessa época em Natal.

Vale a pena ler esse livro. Não só pelo resgate histórico-cultural de Natal, mas também pela sua primorosa escrita.

Em Natal, a partir da década de 1920, com o desenvolvimento da cidade e o salto à modernidade, o feminismo avançou. A figura da mulher moderna não era tão rara, já se via com mais frequência nas ruas.

Gizinha, a personagem principal desse romance, mostra uma mulher mais independente e sem preconceitos, com utilização de roupas mais ousadas. Esse padrão feminino, apesar de salutar, era criticado pela maior parte da população conservadora.

Na narrativa, o escritor mostra preocupação com o modelo de casamento e faz crítica a sua forma de constituição, assim como exibe as desconfianças masculinas com relação a certos comportamentos da esposa, diante da preocupação em torno do que os outros poderiam pensar.

A densificação do ciúme foi outro tema explorado pelo narrador, tendo como consequência a tragédia conjugal de Gizinha. Realça que certas suspeitas conjugais, ainda que infundadas, fazem tão mal quanto aos fatos consumados. Ninguém consegue viver muito tempo na incerteza dos acontecimentos.

Antônio Souza – leitor contumaz e amante inveterado de livros – defendeu pessoalmente uma mulher mais produtiva na sociedade, com independência intelectual e liberdade de opiniões. No seu governo deu um passo à frente, abrindo oportunidade para as mulheres estudarem, ampliando o espaço de atuação feminina, que culminou, mais tarde, no voto feminino e a entrada da mulher na política.

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